Título: Brics vão se reunir para discutir ajuda a europeus
Autor: Moreira ,Assis
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2011, Internacional, p. A9

Os líderes dos Brics - Brasil, Rússia, India, China e África do Sul - vão se reunir na quinta-feira em Cannes, antes da cúpula do G-20, em meio a expectativas sobre ajuda do grupo para a zona do euro.

Os presidentes da União Europeia, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Durão Barroso, enviaram carta aos líderes do G-20 no fim de semana, insistindo que, "diante das persistentes tensões nos mercados globais, precisamos continuar a assegurar recursos suficientes para o Fundo Monetário Internacional (FMI) tratar de situações de crise de maneira coordenada e abrangente".

Autoridades dos Brics têm reiterado disposição de examinar ajuda no socorro à zona do euro, de preferência através do FMI, mas condicionada a mais poder de decisão na instituição.

Representantes chineses indicaram informalmente que Pequim poderia comprar entre € 50 bilhões e € 100 bilhões de títulos da dívida soberana de europeus. Se o Brasil entrar com € 10 bilhões ou € 20 bilhões, isso será no máximo 2% do que os europeus buscam.

Mas a imprensa estatal chinesa foi incisiva no fim de semana, advertindo que a China não é "salvadora" da Europa, não tem remédio para os problemas europeus e que é o velho continente que deve tratar de suas dificuldades financeiras.

Negociadores alertam que o encontro dos Brics é para examinar os temas em geral do G-20 e não se deve esperar necessariamente posições comuns por parte dos presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, da China, Hu Jintao, da Rússia, Dimitri Medvedev, da África do Sul, Jacob Zuma, e do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh.

No caso do Brasil, uma prioridade se relaciona à Rio+20, a grande conferência sobre clima no ano que vem no Rio de Janeiro. Em Cannes, a França defenderá taxação sobre transações financeiras e sobre transporte aéreo e marítimo, para arrecadar cerca de US$ 100 bilhões anuais a serem destinados a países pobres para programas de combate à mudança climática.

Para o Brasil, porém, o compromisso é de os países ricos desembolsarem a soma, e não através de taxação que poderá ser custosa para várias economias. Um representante de Bruxelas retruca que não tem jeito, porque os desenvolvidos simplesmente não têm meios no momento de aumentar recursos para projetos de desenvolvimento.

Na carta aos líderes do G-20, Van Rompuy e Durão Barroso dizem que a Europa está cumprindo sua parte, com o pacote para conter a crise da zona do euro, mas que isso "não será suficiente para assegurar um crescimento equilibrado".

Os europeus insistirão em Cannes que não são os únicos a ter problemas e que os outros também devem agir. Mas a questão no G-20, justamente, será se a resposta dos europeus para evitar mais contágio da crise é suficiente e efetiva.