Título: Tucano estanca apesar de programa de TV
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2006, Polítca, p. A4

A 14ª pesquisa CNI/Ibope realizada no governo Luiz Inácio Lula da Silva, divulgada ontem, reforça a tendência de vitória do presidente no primeiro turno das eleições de outubro e o confirma como o candidato mais conhecido e menos rejeitado da disputa. Com ou sem a participação de candidato do PMDB - o que já foi descartado pela Executiva Nacional do partido -, Lula recebe 48% das intenções de voto no primeiro turno, sempre mais que o dobro da soma das registradas a seus concorrentes. A avaliação positiva do governo cresceu em quase todas as faixas da população, exceto nos segmentos com renda mensal acima de 10 salários mínimos.

A pesquisa CNI/Ibope é trimestral. Em relação à anterior, realizada em março, Lula cresce cinco pontos na pesquisa estimulada (na qual é apresentada ao entrevistado uma lista de nomes). Na lista anterior, em que o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) aparecia, o presidente tinha 43%.

O ex-governador paulista Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, mantém-se estável em suas intenções de voto. Em março ele tinha 19% e em junho aparece com 18% no cenário com concorrente do PMDB - o nome foi o do senador Pedro Simon (RS) - e com 19%, sem Simon.

Segundo Marco Antonio Guarita, diretor da CNI, a grande maioria das entrevistas foi feita antes da invasão da Câmara pelo Movimento de Libertação dos Trabalhadores Sem Terra (MLST). A pesquisa não afere, assim, eventuais impactos causados à imagem do governo pela quebradeira do movimento liderado pelo petista Bruno Maranhão. A sondagem, no entanto, já capta os efeitos do programa do PSDB em cadeia nacional, principal aposta do partido, nesta fase de campanha, para alavancar seu candidato.

Lula também vence com tranqüilidade um eventual segundo turno com Alckmin. A pesquisa de junho registra oscilação negativa de dois pontos do candidato tucano (de 31% para 29%), dentro da margem de erro, e crescimento de quatro pontos do presidente (49% para 53%).

Numa avaliação dos resultados, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), atribuiu à "avalanche de publicidade do governo" o alto índice de intenções de voto recebido por Lula. Nesse cenário, ele vê um "quadro de estabilidade" entre as candidaturas.

Um dos resultados que chamam a atenção nessa pesquisa CNI/Ibope é o fato de a avaliação do governo Lula alcançar em junho níveis tão positivos (44% de ótimo/bom) quanto os manifestados pela população no primeiro ano de sua gestão: 43% nas rodadas de junho de 2003 e de setembro daquele ano. Depois de setembro de 2003, os índices de aprovação foram caindo. As piores avaliações (29% de ótimo e bom) foram registradas em junho de 2004 e, depois, em setembro e dezembro de 2005. O índice (29%) se manteve na pesquisa seguinte, realizada em dezembro de 2005, e voltou a subir em março de 2006, quando 38% avaliavam o governo como ótimo ou bom.

De acordo com os resultados, a avaliação positiva só não cresceu no segmento da população que recebe mais de 10 salários mínimos por mês (a avaliação positiva passou de 35% para 32% e a negativa subiu de 27% para 34%).

A avaliação positiva do governo cresceu mais na região Sudeste. Em março, 35% consideravam o governo ótimo ou bom e em junho, esse índice sobe para 43%. Na mesma região, a avaliação negativa do governo caiu: 24% da população consideravam o governo ruim ou péssimo em março e, na pesquisa divulgada ontem, esse índice caiu para 21%.

Uma das avaliações feitas constantemente pelos tucanos é confirmada: a alta exposição de Lula na mídia nacional. Segundo a pesquisa CNI/Ibope, 51% dos entrevistados respondem que Lula aparece com mais freqüência na televisão. Apenas 22% apontam Alckmin como o candidato que mais aparece. PSDB e PFL, partidos coligados em torno da candidatura Alckmin, apostam na reversão desse quadro a favor de Alckmin a partir do início do horário eleitoral gratuito na televisão.

Outro argumento de tucanos e pefelistas em defesa das chances de crescimento de Alckmin é o alto grau de desconhecimento do seu candidato. Segundo a pesquisa CNI/Ibope, Lula é conhecido por praticamente todos os eleitores (95% o conhecem bem ou um pouco), enquanto o ex-governador paulista é "bem" ou "um pouco" conhecido de quase a metade. Apenas 1% dizem não conhecer Lula, 18% desconhecem Alckmin, 30% dizem não conhecer a candidata do P-SOL, Heloísa Helena, e 44%, Simon. Cristovam Buarque (PDT) tem o maior índice de desconhecimento: 58% e sua rejeição é a segunda menor (29%).

Outro resultado favorável a Lula é o que afere o índice de rejeição do candidato a presidente. Dos sete nomes apresentados pelo Ibope - Lula, Alckmin, Heloísa Helena, Simon, Enéas (Prona), Cristovam e José Maria Eymael (PSDC) - o do presidente é o que tem menor índice de rejeição (28%). A pergunta feita para medir a rejeição do candidato é em quem não votaria de jeito nenhum. Alckmin aparece com 34%, Heloísa Helena, com 36%, e Simon, com 35%. Os três têm altos índices de desconhecimento do eleitorado.

Num dado curioso, o Ibope perguntou que nota, de 0 a 10, o entrevistado daria ao governo Lula. A nota média registrada em junho foi de 6,4. Em março, a nota média foi 6. A maior média do governo foi registrada em junho de 2003: 6,9.