Título: Alckmin acena com fim da reeleição
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2006, Política, p. A8

Sob a ameaça de ser abandonado por líderes regionais tucanos, o candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, decidiu incluir o fim da reeleição, com mandato de quatro anos, no pacote de reforma política que promete enviar ao Congresso, na hipótese de ser eleito nas eleições de outubro. Até agora, o ex-governador de São Paulo evitara se comprometer com a medida, restringindo-se a dizer que acataria o que fosse decidido pelo Congresso sobre o assunto.

A articulação que levou Alckmin a mudar de postura começou na semana passada e se estendeu pelo fim de semana da convenção nacional em que o PSDB oficializou sua candidatura. O coordenador político da campanha, senador Sérgio Guerra, foi quem disse a Alckmin que essa era uma condição para o tucano desanuviar o clima de tensão, provocado pela desconfiança de que alguns presidenciáveis de 2010 estariam fazendo corpo mole na campanha.

O fim da reeleição com o restabelecimento de um mandato presidencial de quatro anos interessaria sobretudo a dois tucanos: o ex-prefeito de São Paulo José Serra que, se for eleito governador em 2002, pode reivindicar a Presidência em 2010, e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Na época em que Serra disputava com Alckmin a indicação do PSDB, assumiu o compromisso com Aécio de patrocinar o fim da reeleição. Aécio também queria um compromisso parecido de Alckmin, mas ele sempre fugiu do assunto.

Sérgio Guerra detectou que a proposta de acabar com a reeleição prosperava também entre os senadores do PSDB e de outros partidos - boa parte deles é candidato a governador em seus Estados. Mas é certo que o fim da reeleição não é um consenso no Congresso, mesmo entre correligionários da candidatura Alckmin. No PFL, por exemplo, avalia-se que a proposta, se for enviada ao Congresso por Alckmin, não deve ser aprovada, pois quatro anos seriam muito pouco para o governo que substituir o PT.

Aécio e Serra têm demonstrado irritação com as especulações de que estariam fazendo corpo mole. Entre tentativas de desmentido, sobram estocadas. Aécio, por exemplo, chegou a comentar publicamente não ter a mesma "obsessão" de José Serra - seu eventual adversário em 2010 - pela Presidência. Mas os tucanos reclamam da convenção conjunta patrocinada pelo governador em Belo Horizonte: se foi do tamanho necessário para lançar a candidatura de Aécio à reeleição, teria ficado aquém no que se refere ao lançamento de um candidato a presidente.

O próprio Aécio marcou um encontro às 11h no Palácio das Mangabeiras, antes de todos irem para a convenção, o que atrasou o evento. Quando Alckmin discursou, depois das 14h, os militantes que pela manhã lotavam o centro de exposições aos poucos foram se retirando para o almoço, oferecido no local pelo PSDB, esvaziando o local. Até o candidato a vice, José Jorge, reclamou do atraso na programação.

Serra também deixou claro, nas conversas que teve em Belo Horizonte, que não aceita a acusação de fazer corpo mole. Em sua defesa, enumerou aos interlocutores as posições que adotou desde a disputa com Alckmin. Queria ser candidato, mas recuou quando a cúpula lhe comunicou que teria de disputar a indicação com o então governador, para não dividir o partido.

É certo que não foi ao anúncio de que Alckmin seria o candidato, mas logo depois o recebeu na prefeitura para demonstrar que acatava a decisão. Candidato a governador em primeiro lugar nas pesquisas, disse que pede votos a Geraldo Alckmin em todos os lugares que visita, isso quando os dois não estão juntos. Ou seja, estaria demonstrando "solidariedade partidária", segundo um dos seus interlocutores. Segundo outro aliado de Serra, a força que ele precisa fazer por Alckmin é em São Paulo, onde é candidato favorito ao governo. Se passar a peregrinar pelo país, pode passar arrogância aos eleitores, como se presumisse que já está eleito.