Título: Consórcio de carros vai às ruas e bancos
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2006, Finanças, p. C1

O consórcio de automóveis cada vez mais ultrapassa a fronteira das concessionárias de veículos. Além da rede bancária, o sistema está na vitrine de lojas em áreas comerciais. O que vale é a aproximação com o público que pode se interessar pelo modelo de aquisição de bem programado e sem pressa. Muito diferente da média dos consumidores que chega às concessionárias para a troca de carro com urgência.

O consórcio ABC Primo Rossi nasceu dentro de uma concessionária que já tem mais de 50 anos em São Paulo. Mas acaba de abrir uma loja só para vender cotas de consórcio na rua da Mooca, uma movimentada área comercial encravada num dos mais tradicionais bairros de São Paulo que leva o mesmo nome.

O bairro da Mooca é também onde fica a concessionária. Mas o ambiente da loja de carros é bem diferente do burburinho de pedestres que passam pela esquina da nova loja de consórcios, alvos certos para o apelo de venda de uma cota de carro, motocicleta ou imóvel. No mesmo estilo popular de uma rede como Casas Bahia ou até mesmo o folclórico carnê do Baú da Felicidade.

"Decidimos nos aproximar mais do nosso público e da comunidade", afirma a vice-presidente do consórcio, Mônica Rossi. "O cliente que chega na concessionária tem uma necessidade imediata de trocar o carro na maior parte das vezes", completa.

Isso não significa que a concessionária deixará de vender consórcio. Mas no balcão de uma loja de carros é quase certo hoje que o cliente acaba optando pelo financiamento. Também porque no mercado dos automóveis pesa ainda a quase irresistível opção de pagar juros para poder ter naquele mesmo instante um dos bens mais cobiçados pelo consumidor.

"É sinal de maturidade conseguir abrir mão de um prazer imediato em favor da disciplina de poupar para um consumo futuro", prega a executiva que representa uma empresa que incorporou também as carteiras de consórcios das falidas Mappin e Mesbla e que hoje está entre as 25 maiores administradoras do país.

O maior consórcio do país também atua longe do ambiente da venda de automóveis. O Bradesco Consórcio surgiu há três anos. Nesse tempo passou à frente dos consórcios das montadoras, que tradicionalmente lideravam o "ranking".

O gerente da agência que oferece a modalidade ao seu cliente sabe que naquele momento ele não necessariamente está precisando trocar o carro urgentemente. O Bradesco tem 3 mil agências em todo o país, um espaço grande o bastante para atrair mais gente que pode programar a compra de um bem. O segmento de veículos representa a maior parte das cotas vendidas pela instituição financeira. Foram 129, 6 mil em março.

"O gerente da agência é o nosso melhor consultor", afirma o diretor presidente do Bradesco Consórcio, Celso Barbuto. Segundo o executivo, o consórcio do Bradesco cresceu 25,43% em 2005 e projeta mais um avanço de 30% este ano.

É a diversificação de produtos vendidos por meio de consórcio que também tornou mais variado o universo dos pontos de vendas da modalidade, segundo o presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac), Rodolfo Montosa.

"Na primeira fase da sua história, o sistema era oferecido pelos concessionários; depois vieram as montadoras e agora, depois da expansão para as áreas de eletrodomésticos e imóveis, surge uma nova etapa, mais aberta", afirma. "O consórcio deixou de girar em torno do carro", diz Montosa.

Do total de 1,916 milhão de cotas vendidas pelos consórcios em 2005, o segmento de motocicletas ficou com a maior fatia, com 50,76%. O segmento de veículos leves ficou em segundo lugar, com 20,11%, seguido por eletrodomésticos (17,34%), imóveis (9,58%) e veículos pesados (2,22%). No entanto, Montosa lembra que o crescimento da modalidade está sendo puxado pelos demais segmentos.

No primeiro trimestre deste ano, enquanto a venda de cotas de automóveis ficou praticamente estagnada, com uma queda de 0,1%, a venda de consórcio de imóveis cresceu 41,7%.