Título: Brasil 2011
Autor: Pinto, Almir Pazzianotto
Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2010, Opinião, p. 29

Advogado, ex-ministro do Trabalho e ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho

A um de dois resultados chegará a eleição presidencial: triunfa Dilma Rousseff, candidata do PT-PMDB-PDT, conforme apontam levantamentos de opinião pública, ou José Serra, que partiu na frente, cedeu terreno e agora se esforça para alcançar o segundo turno.

Os demais são coadjuvantes, que não oferecem perigo.Marina Silva se conduz com elegância, discrição e dignidade, mas está vinculada a personagem único, defensor do meio ambiente, assunto de pouco interesse para a maior parte do eleitorado.

Plínio de Arruda Sampaio, políticodeideias atrasadas, dá a sensação de ressurgir de filmenoir, da SérieB, da década de 1940. A partir daí, ninguém atrai interesse. São anônimos valendose da legislação leniente para viajar e conceder entrevistas, embora saibam que não conseguem1% dos votos.

Confirmadasas previsões dos institutos de pesquisas,comDilma Roussef transformada em presidente da República, como ficará o país?Tudo indica que teremos a continuidade da República sindicalista implantada por Lula, sob o domínio da combinaçãoPTPDT-CUT-Força Sindical.

Quanto ao PMDB, ser-lheão concedidos um ou dois ministérios de segunda linha, para justificar a distribuiçãodecargos e nomeações.Oesquema certamente não se manterá durante quatro anos. À medida queDilma sentir-se segura, tenderá a ignorar os compromissos de campanha, para imprimir ao governo estilo pessoal, de olho no segundo mandato.OCongresso Nacional não deixará de proceder de maneira servil, sobretudo porque o PSDB e oDEMdesconhecem a arte de fazer oposição na qual o PT é mestre.Manifestações isoladas deumou outro senador, ou de deputados, não impedirão o governo de navegar tranquilo pelas águas do Legislativo. A primeira vítima deverá ser a Lei de Responsabilidade Fiscal.Emcaso de necessidade, emendas à Constituição ajudarão a transpor obstáculos.

Se eleito José Serra, o principal derrotado será o presidente Lula. Semcomando forte, vítima das cisões internas, o PT ficará à deriva. Sob o impacto do fracasso, Lula perderá espaço, e terá dificuldades para retornar à presidência.

O governo Serra, por sua vez, conhecerá forte onda de grevismo.Na oposição, ecom pouco a perder, CUT e PT, coadjuvados pelo MST, valer-seatilde;o das facilidades proporcionadas pela democracia para atacá-la em aspecto fundamental: o direito de propriedade. No Congresso e nas ruas combaterão, de maneira sistemática e implacável, as iniciativas de reforma.

O governo deseja modernizar a legislação trabalhista? Somos contra. Pretende simplificar o sistema tributário? Jamais. E a democratização da estrutura sindical? Nem pensar. Vamos equilibrar o orçamento da Previdência Social?Nunca! Os ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor que o digam, pois experimentaramo dissabor da convivência com irredutíveis fanáticos. Incumbido da passagem do autoritarismo para a democracia, do combate à inflação e de dar solidez à moeda, Sarney não conheceu um minuto de tranquilidade atémarçode1990.

ComFernando Collor foi pior.

Acabou cassado, com direitos políticos suspensos. Fernando Henrique, solidário a Lula durante as grandes greves, foi outro a quem o PT jamais deu trégua.

Lembram-se da paralisação ilegal da Petrobrasem1995? O Brasil beneficia-se da conjuntura mundial. Colhe resultados positivos da globalização. É favorecido pelo desenvolvimento da China e de outros emergentes.

Ocenário que aguarda o próximo presidente é, porém, nebuloso. Tudo poderá continuar a correr bem, mas não convém afastar, com excessiva confiança, a possibilidade da reversão dos motores da economia.

Vêm à lembrança palavras de TancredoNeves no discurso de 5 de janeiro de 1985.Comsabedoria e sensibilidade disse o extraordinário homem público: Quando um povo escolhe o chefedeEstado,nãoelegeomais sábio de seus compatriotas e é possível que não eleja o mais virtuoso deles.Tais qualidades, que só o juízo subjetivo consegue atribuir, não podem ser medidas.

Ao nomear, com seu voto, o presidente da República, a nação expressa a confiança de que ele saberá conduzi-la na busca do bem comum. No mesmo pronunciamentoTancredo disse ter vindo em nome da conciliação.

Espera-se que o próximo presidente tenha forças para levantar a honrosa bandeira.