Título: Meirelles volta a defender meta de inflação
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2006, Legislação &, p. E2
É "importante" manter metas de inflação não muito muito diferentes das de principais parceiros comerciais do Brasil, que têm taxas bem menores, afirmou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em depoimento, com toda a diretoria da instituição, à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. "Se não seremos prejudicados", disse.
Após a sessão, que teve apenas seis senadores no momento de maior audiência das seis horas de depoimento, Meirelles negou que a afirmação seja indicação de que defenderá nova redução na meta para 2008, na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), no fim do mês.
"É meramente uma constatação, frente a uma observação de que as metas brasileiras seriam muito ambiciosas", explicou Meirelles. Ele lembrou que assumiu o Banco Central com metas inferiores, para 2003 e 2004, que foram ajustadas no primeiro mês de governo. Em quinze países com sistema de metas, incluindo mercados emergentes como Turquia, Tailândia e México, o Brasil é o que tem a meta mais alta, quando se soma a margem de tolerância, de até dois pontos percentuais.
A Turquia tem uma meta de 5% para o ano calendário de 2006, maior que os 4,5% do Brasil, mas não há, naquele país, nenhuma margem. À saída da audiência, Meirelles reconheceu que a situação internacional pode causar problemas ao Brasil, mas argumentou que o país está em melhores condições que no passado para atravessar turbulências nos mercados mundiais.
O presidente do BC defendeu o acerto do regime de metas com dados sobre o desempenho da economia, como o crescimento de 3,9% no consumo das famílias no primeiro trimestre de 2006, o décimo consecutivo - índice que, se estendido para todo o ano, representaria aumento no consumo das famílias de quase 20%, comemorou. Munido de tabelas com bons resultados da geração de emprego e renda, das vendas no varejo e da produção industrial nos últimos meses, Meirelles defendeu o "combate com vigor" e "sem hesitação".
"Para distribuir renda e obter ganhos reais de salário é importante que a inflação esteja na meta", comentou Meirelles, ao explicar aos senadores que os piores impactos sobre os salários ocorrem quando há a chamada "surpresa inflacionária", índices superiores aos esperados pelo mercado. Ele afirmou que a divulgação recente de índices inferiores à meta não são resultado de um aperto excessivo da política monetária, porque "sempre haverá oscilação, para cima ou para baixo", enquanto o BC persegue uma média expressa pela meta.
Meirelles ouviu palavras entusiasmadas de incentivo do deputado Jefferson Peres (PDT-PA), da oposição, que chegou a encorajar o BC a "aumentar quanto for preciso na Selic", a taxa básica de juros. Ao também manifestar apoio ao presidente do BC, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), notou que foram os senadores governistas, como Eduardo Suplicy (SP), que criticaram o desempenho do BC, e ironizou o "surrealismo" do país. "Parece que a base do governo é oposição e a oposição, base do governo", comentou o tucano. "(Os governistas) são críticos dos rumos da economia, mas quando falam dos resultados do governo se vangloriam dos resultados econômicos", criticou o senador tucano.