Título: Problemas históricos e mudanças muito lentas
Autor: Cezar , Genilson
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2011, Especial, p. F1

O saneamento continua sendo uma preocupação secundária quando se trata da construção de grandes empreendimentos, sejam hotéis, condomínios ou indústrias", diz Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil. Para muitos empresários, continua valendo a prática de 20 anos atrás: primeiro se faz a obra, depois é que se pensa em improvisar um escoamento para o esgoto. Como a rede pública é ainda muito pequena, a solução tem sido a construção de grandes fossas ou o simples lançamento do esgoto em cursos de rios próximos.

Nos últimos anos, alguns fatos estão contribuindo para mudanças ainda lentas, mas importantes. Um é a Lei do Saneamento, de 2007, que obriga os municípios a planejar o crescimento. Outro é a proximidade da Copa de 2014, que atrai grandes redes hoteleiras tradicionalmente mais exigentes com a questão ambiental.

"Até um passado recente, era comum a autoridade jogar o problema do esgoto para a rede hoteleira, como contrapartida para a construção do empreendimento", diz Carlos. "Isso fez com que muitas redes se afastassem do país. Agora, o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil - que congrega as maiores redes nacionais e internacionais - está exigindo da autoridade pública que tenha uma solução para o novo empreendimento", afirma. Não bastassem as doenças e os danos ao ambiente, a falta de saneamento estaria afastando negócios e turismo do Brasil, observa o presidente do Trata Brasil.

Não poderia ser diferente em um país onde 55% das residências ainda não estão conectadas a uma rede de esgoto e mais de dois terços do que é coletado são jogados na natureza sem tratamento. As 81 maiores cidades do país, acompanhadas pelo instituto, lançavam por dia 5 bilhões de litros de esgoto nos cursos de água, sem tratamento, segundo os últimos dados de 2009. "É um cenário generalizado", afirma Édison Carlos.

O que se vê é consequência de duas décadas perdidas para o saneamento, os anos 1980 e 1990, quando não havia um único departamento no governo federal que pudesse atender às reivindicações do setor. "Enquanto outras áreas da infraestrutura, como energia elétrica e telecomunicações - e mesmo água potável - avançaram bastante, a coleta e o tratamento do esgoto ficou muito para trás", diz.

A ausência de legislação, por um lado, e a falta de investimento na rede, por outro, fez com que prevalecesse essa conjuntura.