Título: Aérea ganha tempo com nova proposta
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2006, Empresas, p. B2

Numa tentativa desesperada de impedir o arresto de aviões pelas empresas de leasing americanas, o advogado da Varig nos Estados Unidos, Rick Antonoff, informou, no meio da audiência com o juiz da corte de falências de Nova York, Robert Drain, que a companhia aérea recebeu uma nova proposta de compra. O Valor apurou que a oferta seria de US$ 450 milhões. A audiência foi suspensa por meia hora para que Antonoff pudesse obter informações mais detalhadas no Brasil. O advogado, no entanto, não revelou o nome do novo interessado na Varig, referindo-se a ele apenas como um "investidor da indústria de aviação brasileira". O Valor apurou que a proposta foi apresentada de última hora pelas empresas Syn da Amazônia e Fontidec Brasil Investimentos.

A proposta prevê um depósito imediato de US$ 75 milhões. Um novo aporte de US$ 50 milhões seria feito no dia 5 de julho. Os US$ 325 milhões restantes seriam pagos em 60 dias. A oferta foi entregue ontem ao juiz que conduz o processo de recuperação da Varig, Luiz Roberto Ayoub, da 1ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, pelo sócio da Syn, José Carlos Rocha Lima, ex-presidente da VarigLog, que era a subsidiária de transporte de cargas e logística da Varig. Depois do encontro, Rocha Lima se reuniu com o presidente da Varig, Marcelo Bottini, e com o presidente do conselho de administração da companhia, Humberto Rodrigues Filho, para detalhar a proposta. Procurado, pelo Valor, Rocha Lima não havia retornado as ligações até o fechamento desta edição.

Nos dois encontros, o executivo teria afirmado que as duas companhias estariam consorciadas com o fundo de investimentos americano Carlyle. O juiz Drain teria solicitado à Varig que comprovasse a participação efetiva do Carlyle no negócio, mas pela falta de tempo a aérea não conseguiu. Em razão disso, o juiz americano teria estendido o prazo até hoje. "É um dos investidores misteriosos que costumam aparecer nessas horas", afirmou em tom irônico o advogado William Rochelle, representante de dois credores da Varig, a Willis e a Mitsui.

Não é a primeira vez que a Fontidec tenta comprar a Varig. Em maio do ano passado, a empresa fez uma proposta de 200 milhões de euros para assumir a aérea, mas o negócio acabou não sendo concretizado porque a Fontidec não teria conseguido comprovar a existência dos recursos para fazer o investimento.

Interlocutores presentes à reunião em Nova York estavam pessimistas e acreditavam que Drain fosse autorizar o arresto das aeronaves, uma vez que a NV Participações, único consórcio que apresentou proposta de compra pela Varig no leilão, ainda não esclareceu a origem do dinheiro que usará para assumir a empresa.

Ayoub informou, na segunda-feira, que qualquer investidor poderia fazer ofertas pela empresa desde que consorciado com a NV Participações, que ofereceu R$ 1,01 bilhão pela Varig. O juiz brasileiro homologou sob condições a proposta da NV, que tem como representantes a associação Trabalhadores do Grupo Varig (TGV).

Os compradores terão que esclarecer até hoje ao meio-dia alguns pontos da proposta que não ficaram claros. Entre eles o total de créditos já reunidos pelo grupo para o pagamento de US$ 100 milhões. O consórcio também precisa comprovar a viabilidade do aporte de R$ 500 milhões a ser pago por meio da emissão de um instrumento chamado debêntures de participação nos lucros. A rejeição da proposta do TGV, no entanto, abriria espaço para o recebimento de novas ofertas como a da Syn Amazônia e da Fontidec.

Representantes do TGV teriam procurado executivos ligados à TAP perguntando se a estatal portuguesa não estaria interessada em participar do consórcio NV. Mas a resposta teria sido negativa, segundo fontes ligadas à companhia aérea portuguesa. Na segunda-feira, circularam rumores de que a TAP, junto com a AirCanada e o fundo de investimentos americano Brookfield, estaria se unindo à NV Participações para dar suporte financeiro à aquisição da Varig. A TAP negou os rumores. De acordo com fontes envolvidas no processo, o TGV estaria negociando com a LanChile uma participação no consórcio.

A Varig vem cancelando vôos diariamente. Desde sábado já foram suspensos 69 vôos, segundo a própria empresa, uma média de 17 por dia em relação aos 180 vôos diários. O presidente da Varig, Marcelo Bottini, esclareceu que os cancelamentos de alguns vôos nos últimos dias foram pontuais e "não significam, de forma alguma, o cancelamento de rotas da empresa". (Colaborou Ricardo Balthazar, de Nova York)