Título: Situação preocupa, mas técnicos acham que não há motivo para alarme
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2006, Brasil, p. A3

A Companhia Paranaense de Energia (Copel) recebeu um pedido do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para apressar as correções necessárias para a Usina Elétrica a Gás de Araucária entrar em funcionamento. Com 484 MW de potência, a termelétrica foi concluída em 2002 e nunca chegou a operar, mas agora está sendo adaptada para funcionar com três tipos de combustível: gás diesel e H-Bio. A unidade pode fornecer energia a uma população de 1,5 milhão de habitantes.

O presidente da Copel, Rubens Ghilardi, explicou a razão do pedido: a estiagem que diminui consideravelmente o volume de água dos reservatórios e a capacidade de geração de energia das hidrelétricas da Região Sul.

"Temos uma situação hidrológica desfavorável, mas não há motivo para alarmar o consumidor", diz a engenheira Ana Rita Haj Mussi, gerente do Centro de Operação do sistema da Copel. Tal tranqüilidade é creditada ao sistema interligado brasileiro. Para poupar os reservatórios das usinas, a Região Sul está recebendo metade da energia que consome de fora. A usina de Itaipu, que atende o Sudeste, está enviando para a região 4.600 MW médios, o que representa 40% da produção da hidrelétrica.

A situação é preocupante, admite o chefe da divisão do sistema Jacuí, a principal bacia de geração hídrica da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), do Rio Grande do Sul, Carlos Augusto de Moura, mas a expectativa é que o quadro melhore nas próximas semanas com o inverno mais intenso e o clima mais úmido.

Com a baixa do Rio Jacuí, as usinas de Passo Real, Itaúba e Jacuí, que representam 84% da capacidade instalada da estatal - incluindo participações em hidrelétrica privadas - de 996 MW, estão gerando cerca de 230 MW médios, o equivalente a 49% do nível máximo. Para compensar a queda, cresceu a transferência de energia da Região Sudeste para o Sul e o ONS determinou o aumento da produção na Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), vinculada à Eletrobrás.

A térmica de Candiota, com 446 MW de potência instalada na zona sul do Estado, está despachando 320 MW médios, ante uma média de 192 MW em maio. Segundo o chefe de programação de produção da CGTEE, Antônio Augusto Linhares, o ONS já sinalizou para o aumento da geração na unidade até agosto e também para dezembro. Já a usina AES Uruguaiana está parada por falta de suprimento de gás natural da Argentina.

A transferência de energia do Sudeste para o Sul também cresceu. De acordo com o gerente da divisão de operação do sistema da CEEE, Luís Carlos Tadiello, o intercâmbio vem subindo desde o início do ano para preservar os reservatórios da região, mas a tendência deve ser revertida com o início do período de inverno. "Em abril e maio a chuva ficou abaixo do normal, mas deve chegar ao fim deste mês dentro da média", disse.

"Hoje, ao contrário de 1999 e 2001, não temos problemas de transmissão", afirmou Éberson Silveira, técnico da Secretaria de Energia, Minas e Comunicações (SEMC) do governo gaúcho. Em 1999, o Rio Grande do Sul tinha gargalos nas linhas internas e em 2001 o problema foi a transferência de energia do Sul para o Sudeste, onde houve racionamento de energia. "A capacidade de abastecimento do Estado está em 5 mil MW para uma demanda média de 3.100 MW em junho", comentou.

Em Santa Catarina, as 12 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) estão operando com 30% de sua capacidade de geração de energia. De acordo com o chefe do departamento de geração da Celesc, Antenor Zimmermann, a capacidade instalada da Celesc é no total de 80 MW, mas a estiagem afetou o desempenho das PCHs neste primeiro semestre, uma situação parecida ao que aconteceu no ano passado, quando o Estado também sofreu com a seca.

De acordo com Zimmermann, cinco das 12 PCHs - Palmeiras, Bracinho, Garcia, Caieiras e Cedro - possuem pequenos lagos de acumulação e todos eles estão quase sem água. A área de geração da Celesc, no entanto, é pequena, representando apenas 2,5% da energia distribuída no Estado, e por isso, diz que mesmo que elas tenham de parar completamente de funcionar, não teriam grande impacto sobre o sistema de geração do Estado.

A preocupação do executivo está no fato de que o período de seca, que se prolonga desde o início do ano, não tem previsão de passar no curto prazo em Santa Catarina. Segundo o Climerh-Epagri, instituto de meteorologia, a previsão para até agosto é de que a chuva somente ocorra em áreas isoladas e intercaladas com períodos mais secos, como tem ocorrido nos últimos invernos. Tradicionalmente, os meses de julho e agosto são marcados por um menor acúmulo de precipitação em relação aos demais meses do ano, o que não dá tranqüilidade ao Estado.

Para o secretário de desenvolvimento sustentável de Santa Catarina, Sérgio Silva, a situação é complicada porque a tendência da estiagem no Estado é crescente. "Se ela fosse estável já seria problemática, mas ela vem em crescimento", e por isso diz que o Estado está elaborando um plano para regular o uso da água a partir de 2007, de forma que os gastos de água excessivos venham a ser punidos legalmente.

Mas embora não haja receio de racionamento na Região Sul, o presidente da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Stênio Jacob, deu um aviso à população de Curitiba e região metropolitana: se o consumo não for reduzido em 20%, vai faltar água. A água armazenada seria suficiente para, no máximo, 90 dias.

Já Paulo Christ, superintendente da (Companhia de Água e Saneamento de Santa Catarina (Casan) afirmou que no Planalto e Oeste catarinense foi iniciado racionamento de água em três cidades - Seara, São Miguel do Oeste e Guaraceaba. Outros municípios como Anchieta, Dionísio Cerqueira e Maravilha também poderão entrar no racionamento. Segundo ele, a situação é mais crítica no Oeste.

Segundo Christ, um racionamento para todo o Estado, no entanto, estaria descartado porque a seca não está atingindo Santa Catarina como um todo, com a captação em rios como Cubatão - que abastece Florianópolis - estando normal. Em cada cidade, a atuação da Casan tem sido diferenciada para não deixar a população sem água. Já foram usados carros-pipas e em alguns casos a empresa requisitou o uso de poços localizados em casas para fazer bombeamento da água.