Título: Acordo automotivo agrada setor nos dois países
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2006, Brasil, p. A4

Embora aparentemente favorável aos argentinos, o acordo automotivo do Mercosul, que deverá ser firmado hoje em Buenos Aires, agradou a toda indústria automobilística, setor que concentra as operações em dois países - Brasil e Argentina. O entendimento favorece o fluxo de exportações de veículos da Argentina para o Brasil e também da Argentina para países fora do bloco. Nada mais oportuno em um momento em que o câmbio no país vizinho oferece vantagens superiores a 25% em relação ao real.

Todos os altos executivos da indústria automobilística estão trabalhando com diagnósticos que mostram um câmbio não muito diferente do valor de hoje para os próximos meses. Assim, além da vantagem cambial, abrir um espaço mais amplo para o escoamento dos veículos produzidos na Argentina significa referendar os investimentos feito pelas montadoras em solo argentino recentemente, liberados em um momento que alia a recuperação da economia e do mercado de veículos da Argentina com a vantagem cambial da moeda daquele país em relação ao real.

Com os comandos da América do Sul instalados no Brasil, nos últimos meses quase todas as montadoras incrementaram a atividade na Argentina. A francesa PSA Peugeot Citroen e a alemã Volkswagen acabam de lançar novos modelos de carros no país vizinho. A Fiat, montadora que há mais de quatro anos não produz carros na fábrica de Córdoba, firmou acordo com o grupo PSA para fornecer transmissões produzidas na Argentina.

A vantagem da Argentina no acordo que será firmado hoje aparece com maior evidência por meio do mecanismo conhecido como "flex", que determina o fluxo de comércio bilateral isento de tarifas de importação. Até hoje, para cada US$ 2,60 exportados por qualquer um dos dois países, era permitido importar o equivalente a US$ 1 com isenção de Imposto de Importação. O acordo que será assinado hoje fixa US$ 1,95 para cada US$ 1. No primeiro ano de vigência do um acordo de dois anos, o teto do "flex" será de US$ 2,10. A redução da diferença, uma exigência do governo argentino, nunca foi tão bem aceita pelo lado das montadoras no Brasil.

O tempo de vigência do acordo - dois anos - foi uma decisão sensata no entender do presidente da Anfavea (associação das montadoras), Rogelio Golfarb. "Seria um risco fechar um acordo desses para um prazo maior", afirma, com base na avaliação de que as economias do Brasil e da Argentina ainda estão sujeitas a volatilidades. Além disso, acrescenta Golfarb, ao longo dos dois anos do acordo, os recentes investimentos em território argentino vão se materializar, o que dará às fábricas do outro lado da fronteira mais fôlego. Assim, ficou mais uma vez adiada a data para a abertura total do comércio entre Brasil e Argentina. No acordo que expirou em dezembro de 2005, havia sido prevista a abertura a partir de 2006.

Quanto à redução do "flex" em favor da Argentina, Golfarb disse que "hoje podemos pensar em equilíbrio à medida que temos escala mais favorável no Brasil, mas câmbio melhor na Argentina".

As montadoras brasileiras poderão continuar comprando autopeças produzidas fora do Mercosul com descontos de 40% no Imposto de Importação. Mas até o final deste ano, representantes dos governos brasileiro e argentino vão definir novas regras. Golfarb ressalta que não se trata de uma vantagem exclusiva do Brasil. Os argentinos têm uma lista com alíquotas de importação reduzidas.

O acordo será válido de 1º de julho deste ano a 30 de junho de 2008. Até 30 de junho de 2008, os dois governos vão avaliar o comércio automotivo bilateral e tentar estabelecer regras mais perenes. O principal objetivo dos brasileiros é determinar uma data para o livre comércio. Golfarb diz que a maior preocupação do setor é fazer com que o Cone Sul esteja preparado para enfrentar a concorrência de países fora da região.

De janeiro a maio, o Brasil exportou 97.168 ônibus, caminhões e automóveis para a Argentina, o que representou entrada de US$ 898,26 milhões. O crescimento foi de 15,7% sobre o mesmo período de 2005. No lado das importações, o país comprou 29.194 veículos da Argentina nos cinco primeiros meses do ano, pagando US$ 408,28 milhões, ou 29,1% mais que em igual período de 2005.

No segmento de autopeças, chassis e carrocerias, as empresas brasileiras venderam US$ 1,77 bilhão para a Argentina de janeiro a maio, um aumento de 37,7% sobre igual período de 2005. No lado das importações do segmento, o valor atingiu US$ 747,99 milhões, 25,7% de elevação sobre igual período de 2005. (Colaborou Arnaldo Galvão, de Brasília)