Título: PFL critica programa do PSDB e pede mais espaço na campanha
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2006, Política, p. A6

Com o encerramento do período de convenções partidárias no próximo dia 30 e o início da campanha eleitoral propriamente dita, em 5 de julho, PSDB e PFL buscam superar divergências para fortalecer a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República. O PFL, que vinha tendo papel secundário na campanha e chegou a ser excluído de uma reunião operacional, ampliará seu espaço na elaboração do programa de governo e deverá opinar mais na preparação das viagens. Por outro lado, o PSDB espera que os pefelistas reduzam as críticas públicas à condução da campanha.

Os pefelistas não gostaram do "tom paulista" do programa partidário do PSDB, levado ao ar na quinta-feira, mas não esperam influir nessa área de comunicação e marketing, cuja condução está nas mãos do jornalista Luiz González, escolha pessoal de Alckmin.

O reforço pefelista à equipe do programa de governo foi decidido na quinta-feira pelos presidentes do PFL, Jorge Bornhausen (SC), e do PSDB, Tasso Jereissati (CE). Por indicação de Bornhausen, 12 pessoas - entre políticos e técnicos - passarão a fazer parte do grupo, que já tem dois representantes do PFL: os ex-ministros Marcus Vinícius Pratini de Moraes e Gustavo Krause (Fazenda, governo Itamar Franco, e Meio Ambiente, no governo FHC).

No dia 3 de julho, em São Paulo, será a primeira reunião de todos os novos representantes do PFL com o coordenador geral de programa, João Carlos Meirelles e o coordenador executivo, Marco Antonio Buainain.

Antes, porém, a pedido de Bornhausen, Buainain reúne-se no Rio de Janeiro com o prefeito Cesar Maia, que apresentou a Alckmin uma série de propostas de governo no discurso que fez na convenção nacional do PFL, em Brasília, na quarta-feira, e vinha sendo, até então, um dos maiores críticos da campanha.

A partir desta semana, o PFL também terá participação mais ativa em todas as decisões da campanha, segundo o senador Sérgio Guerra (PSDB-CE). Uma das primeiras tarefas será elaborar um roteiro de viagens para Alckmin, priorizando de 80 a 100 municípios propagadores de mídia, que têm emissoras de televisão e lideranças políticas influentes na região.

A coordenação política da campanha acredita que as divergências entre PFL e PSDB vão diminuir com a realização de todas as convenções partidárias e, conseqüentemente, com a definição dos palanques nos Estados. Os dois partidos só estarão aliados em 14 dos 27 Estados. Para evitar constrangimentos a Alckmin, onde PSDB e PFL estarão em palanques diferentes a coordenação política da campanha vai estabelecer padrões de convivência.

Lideranças do PFL acham que Alckmin deveria atacar o governo Luiz Inácio Lula da Silva de forma mais contundente e mostrar mais indignação com escândalos ou irregularidades envolvendo a gestão petista. Acham, ainda, que falta à campanha uma marca, um slogan, uma mensagem que mostre ao eleitor o objetivo da candidatura.

Outra reclamação comum no PFL é em relação à falta de propostas concretas de ações regionais, principalmente o Nordeste, local em que Alckmin tem a maior desvantagem em relação a Lula, segundo as pesquisas de intenção de voto. Os coordenadores da campanha minimizam esse problema. Na avaliação de tucanos e pefelistas, o fato de ter apoio das principais lideranças políticas da Bahia, do Ceará e de Pernambuco tornam plenamente administráveis cerca de 60% do eleitorado nordestino.

Apesar das críticas, as lideranças pefelistas dizem acreditar no crescimento das intenções de voto de Alckmin, com o início da campanha propriamente dita - em 5 de julho -, quando Lula não poderá fazer propaganda oficial. Para eles, é a fase de "zerar o jogo": de tornar Alckmin conhecido do eleitor e de "desconstruir" a imagem do presidente, mostrando que seu governo é uma "ficção".

As críticas à campanha motivaram a criação de um conselho político da candidatura, com 12 integrantes do PFL e do PSDB, do qual o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), também foi convidado a participar. O conselho reuniu-se apenas duas vezes. Na semana passada, causou desconforto no PFL o fato de o PSDB não convidar nenhum integrante do partido para uma reunião operacional na sede tucana.

A expectativa do PFL é que as coisas mudem. Pelo menos em relação à equipe de programa isso deve ocorrer. Entre as pessoas indicadas por Bornhausen, estão os deputados Roberto Brant (MG) e José Carlos Aleluia (BA), o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, o ex-secretário de Assistência Social da Prefeitura do Rio (gestão Cesar Maia) Marcelo Garcia, o ex-secretário da Fazenda da Bahia Albérico Mascarenhas, o secretário-geral do PFL, Saulo Queiroz, o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, e o ex-secretário de Educação de São Paulo José Aristodemo Pinotti, entre outros.