Título: Cabral fica neutro e Crivella coloca palanque de Lula no Rio em risco
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2006, Política, p. A7
A decisão do PMDB do Rio de Janeiro de concentrar seus esforços na eleição para governador do Estado, sem apoiar nenhum candidato à Presidência da República, deixa nas mãos do senador Marcelo Crivella (PRB) o futuro do palanque do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no terceiro maior colégio eleitoral do país. O PRB adiou de sábado passado para a próxima sexta-feira, dia 30, a sua convenção regional do Rio e há, inclusive, a possibilidade de que o presidente Lula compareça ao evento ao lado do vice-presidente José Alencar, membro do partido de Crivella. Há algumas semanas Crivella chegou a dizer que não manteria sua candidatura se não conseguisse formar uma coligação que lhe desse mais tempo de TV durante a campanha. Sozinho, o PRB tem menos de um minuto de tempo. Ontem, assessores de Crivella afirmavam que ele mudou de idéia e que deverá manter a candidatura.
O problema de Lula é que o candidato do PT no Estado, Vladimir Palmeira, não decolou, ao menos por enquanto. A pesquisa DataFolha feita no final de maio deu apenas 2% de intenções de votos para o candidato petista. Já Crivella estava em segundo lugar, com 18% das intenções de voto. Uma das razões para o adiamento da convenção do PRB foi a de ganhar mais um pouco de tempo no esforço para buscar uma coligação, que poderia incluir o PTB.
Ontem, em convenção marcada por ataques ao governo federal, o PMDB fluminense, presidido pelo ex-governador Anthony Garotinho - pré-candidato a disputar a presidência da República que não conseguiu ter o nome sancionado pelo partido - formalizou a candidatura do senador Sergio Cabral ao governo do Estado. Cabral é, por enquanto, o favorito a vencer a eleição, com 35% das intenções de voto na pesquisa DataFolha.
Garotinho, que disse ter sido sua candidatura "vendida" pelos membros da cúpula peemedebista que optaram por uma aliança com o presidente Lula, joga na eleição de Cabral o ponto de partida da retomada de sua trajetória para concorrer novamente ao Palácio do Planalto. Em 2002, ele foi terceiro colocado na disputa, com 17,87% dos votos válidos.
Após discursar na convenção, prometendo um governo de continuidade em relação ao próprio Garotinho, que governou de 1999 a março de 2002, e à atual governadora, Rosinha Matheus, mulher de Garotinho, Cabral confirmou que o partido vai concentrar forças na campanha estadual. "Decidimos que o PMDB irá se concentrar na candidatura ao governo do Estado e ao Senado. O palanque será liberado e cada liderança política irá decidir a sua trajetória", afirmou.
O candidato ao Senado será o deputado federal Francisco Dornelles (PP-RJ), em coligação que não conta com unanimidade dentro do PMDB. O deputado estadual Jorge Picciani, presidente da Assembléia Legislativa do Estado, disse antes da convenção que não se sente obrigado a apoiar Dornelles.
Outras convenções formalizaram candidaturas ontem no Rio. A mais importante delas foi a do PFL, que lançou a deputada federal Denise Frossard (PPS-RJ) ao governo do Estado com o pefelista Eider Dantas como vice. O PV, que também fez convenção ontem, entra na chapa com a candidatura de Alfredo Sirkis ao Senado. Na condição de mestre de cerimônia da convenção, o prefeito do Rio, César Maia (PFL) preferiu abster-se das críticas que tem feito à condução da campanha do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência. Denise tinha 10% de intenções de votos na pesquisa DataFolha de maio.
Outro palanque de Alckmin no Rio será o do deputado federal Eduardo Paes (PSDB-RJ), também confirmado ontem como candidato do partido ao governo do Estado. Em maio, o DataFolha apurou apenas 4% de intenções de votos para Paes, considerado por especialistas como uma candidatura com perfil muito parecido com o da candidata do PPS. O PC do B e o PSB confirmaram apoio a Palmeira, do PT. O PSC apóia Cabral.