Título: Acordos regionais fortalecem Lula
Autor: César Felício e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2006, Especial, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa hoje sua quinta campanha presidencial consecutiva com a menor aliança que o PT já teve do ponto de vista formal: Lula só recebeu na convenção do partido neste sábado, em Brasília, o apoio do PRB do vice-presidente José de Alencar, que também concorre à reeleição e deve ganhar nos próximos dias a adesão do PC do B. Mas a fragilidade da coalizão política de Lula é ilusória. O presidente conta com os arranjos regionais para conseguir uma capilaridade na campanha que o PT não poderia prover, ainda que o resultado final seja uma aliança menor que a do principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin.

O partido apoiará candidatos pemedebistas ao governo estadual em seis Estados: Amazonas, Espírito Santo, Paraíba, Goiás, Tocantins e Roraima e recebeu o apoio do PMDB em Minas Gerais. Ainda apóia o PSB no Maranhão e no Ceará. Lança este ano dezoito candidatos ao governo estadual, ante 23 em 2002. O enxugamento das candidaturas foi sacramentado em uma reunião do Diretório Nacional da sigla na véspera. Lula conseguiu impor sacrifícios ao PT e levar para a convenção o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), antigo adversário do PT, sem que este recebesse uma vaia dos 4 mil militantes presentes.

Em um morno discurso de uma hora e meia, Lula fez uma prestação de contas de sua administração, mostrando que irá procurar pautar o debate eleitoral na comparação entre seu governo e o de Fernando Henrique Cardoso, procurando ignorar ataques e instruindo os aliados a fazer o mesmo. "Preparem as pétalas de rosa para os tiros de nossos adversários", disse

Nos Estados onde a base governista está rachada, o apoio a Lula está assegurado. A presença do presidente do PSB, deputado federal Eduardo Campos (PE), na convenção petista foi o maior símbolo desta situação. Candidato ao governo de Pernambuco, Campos não conseguiu fazer com que o PT o apoiasse no Estado e nem levou o PSB para o apoio formal a Lula, mas foi um dos oradores na convenção e saudou respeitosamente o adversário dentro da base,o petista Humberto Costa.

"O PSB está com o PT em todos os Estados. O PMDB ficou conosco na grande maioria. O maior prejuízo que Lula teve com a aliança formal só com o PRB foi o tempo menor na televisão. Na base regional, a aliança é mais ampla", disse o ex-presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, candidato petista ao Senado em Sergipe.

A parceria de Lula com os partidos que não terão oficialmente candidato a presidente , sobretudo, com o PMDB faz com que a ala esquerda do partido preveja a permanência da crise político no próximo ano, mesmo com uma vitória ampla este ano. "Novamente se elegerá um presidente sem garantia de governabilidade. Lula precisa colocar a reforma política na agenda de campanha, sob pena de cair na armadilha de ter de negociar com os adversários para governar", disse o secretário-geral da sigla, Raul Pont, da tendência Democracia Socialista. Mas, durante a campanha, Lula não deverá tomar nenhuma atitude que ameace o interesse das alianças informais, até em razão de suas fragilidades. " Estas alianças irão se consolidando ao longo da campanha. A reforma política não deve ser proposta de campanha presidencial", disse o ministro da Defesa, Waldir Pires.

Para o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), as alianças informais representam uma aposta futura, útil sobretudo na eleição proporcional. "O Congresso eleito em outubro será essencial para nos garantir uma governabilidade parlamentar", defendeu o líder petista. Na ala do partido mais identificada com o Planalto, a impressão e que os espaços abertos poderiam ser maiores. O prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, propôs uma nova rodada de negociações entre os aliados para estruturar mais alianças regionais.vê um PT moroso na política de alianças. "Temos que aproveitar os próximos quinze dias. Este é o momento certo para isso, não podemos deixar passar", defendeu Lindberg.

Candidato do PT ao Senado em Pernambuco, Carlos Wilson demonstrou preocupação com a disputa entre os aliados em Pernambuco. "Temos que manter um mínimo de compostura, para pensar em apoios de segundo turno. No segundo turno em Pernambuco serão todos contra nós", justifica. Wilson parecia adivinhar: pouco depois, durante a convenção, os petistas brasilienses gritaram o nome da candidata do partido ao governo do Distrito Federal, Arlete Sampaio, assim que os microfones confirmaram a presença do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, no clube onde a convenção foi realizada. O Distrito Federal foi outra dor de cabeça para a cúpula petista. O PT lançou a deputada distrital Arlete Sampaio e o PCdoB confirmou o nome do ex-ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, ao Palácio do Buriti.

Politicamente apoiado nas alianças informais, Lula ainda busca um tesoureiro para a campanha e alianças com forças econômicas e sociais. O prefeito de Diadema, José Filippi e o governador do Acre, Jorge Vianna, estão cotados para assumir a coordenação financeira da campanha, mas para isso o escolhido terá que se licenciar do cargo.

No meio empresarial, um primeiro teste acontecerá hoje, quando Lula estará em São Paulo para as comemorações do cinquentenário da associação nacional dos fabricantes de veículos automotores (Anfavea). Será para o meio patronal paulista-onde as simpatias pelo adversário tucano Geraldo Alckmin são maiores- o primeiro pronunciamento do presidente já na condição de candidato. No movimento social, Lula já recebeu o apoio formal da CUT.