Título: PMDB discute punição só agora
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2010, Cidades, p. 38

Quatro filiados, entre eles três candidatos a distrital¿Valente, Rôney Nemer e Benício Tavares¿, terão de responder na Comissão de Ética do partido sobre o possível envolvimento no esquema de corrupção apontado nas investigações da PF

Um dos últimos partidos a tomar providência sobre os citados naOperação Caixa de Pandora, o PMDB, por meio da sua Executiva Regional, decidiu na tarde de ontem encaminhar quatro integrantes da legenda para aComissão de Ética.Os deputados distritais Benício Tavares e Rôney Nemer, o ex-secretário de Educação José Luiz Valente e Fábio Simão, ex-chefe de gabinete do ex-governador José Roberto Arruda (sem partido), foram os peemedebistas apontados no relatório final da Polícia Federal como participantes de um suposto esquemade corrupção e pagamento de propina para a aprovação de projetos na Câmara Legislativa.

A Executiva tomou a decisão por oito votos a ume tem 48 horas para comunicar a presidência daComissão de Ética. As sanções vão desde advertência à expulsão do partido.

O presidente do PMDB-DF, Tadeu Filippelli, acredita que os processos devem começar a ser analisados a partir de hoje, mas os trâmites internos devem empurrar a convocação da primeira reunião para a próxima semana.

A data de conclusão dos trabalhos é imprevisível. De acordo com o regimento da sigla, a comissãotemautonomiapara abrir ou arquivar as ações, escolher o relator de cada caso e definir a agenda de reuniões e os prazos de defesa. Fomos muito cuidadosos e cautelosos com esse assunto e evitamos fazer pré-julgamentos, como fizeram outros partidos, para depois não sermos obrigados a voltar atrás das nossas decisões, disse Filippelli.

O dirigente peemedebista se vangloriou de ter agido pouco tempo após a divulgação do relatório da PF e aproveitou para cutucar os partidos da principal coligação adversária. Quem mais vai fazer como nós em apenas 24 horas? Será que eles vão fazer o que fiz?, questionou.

Apesar de possuir um dos maiores números de membros citados na Caixa de Pandora, o PMDB esperou por quase um ano para promover a avaliação interna. Enquanto isso, outras legendas tomaram iniciativas e forçaram a desfiliação ou a expulsão de seus filiados, como nos casos do ex-governador Arruda, do ex-presidente da Câmara Leonardo Prudente e do ex-distrital Júnior Brunelli.

O documento da Polícia Federal foi a única base para a decisão da Executiva, que deixou de fora outros membros flagrados em vídeos recebendo dinheiro do ex-secretário de Relações Institucionais e principal delator do esquema,Durval Barbosa, como a ex-deputada distrital Eurides Brito e o primeiro vice-presidente do PMDB-DF, Odilon Aires. O grupo que dirige regionalmente a legenda é formado por 15 membros, mas a votação pôde ocorrer com a presença de nove. Isso porque a vaga destinada ao líder do partido na Câmara não foi ocupada e dois eram partes diretamente interessadasRôney e Simão.

Outros três não puderam comparecer à reunião.

De muletas devido a uma cirurgia no menisco, o ex-deputado distrital Pedro Passos foi à reunião para votar favoravelmente à abertura dos processos.

Ele conhece o drama de viver sob acusação, uma vez que renunciou ao mandato, em 2007, para evitar processo de quebra de decoro parlamentar por ser acusado de participar em outro esquema de pagamento de propina investigado pela Polícia Federal, na Operação Navalha.

O único voto contrário foi do primeiro suplente da Executiva, Ildeu de Oliveira. Aliado do exgovernador do DF Joaquim Roriz (PSC) e do atual, Rogério Rosso (PMDB), ele é considerado uma resistência às ações do presidente da sigla.

Consciência tranquila Três dos peemedebistas que responderão a processo interno se dizem tranquilos e já têm a defesa pronta. O deputado Rôney Nemer destaca que não estava na Câmara Legislativa na votação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot) deputados da então base governista são acusados de ter recebido R$ 420 mil para aprovar o projeto. Eu estava atolado de trabalho na BrasíliaTurcomprojetos para o fim de ano, disse Nemer. Como era responsável pela empresa, ele foi substituído na votação pelo suplente Roberto Lucena (PMDB), que votou favoravelmente à aprovação do plano diretor.

Por sua vez, José Luiz Valente acha positiva a abertura dos procedimentos na legenda.

Fui investigado por um ano e fiquei satisfeito com o relatório da PF, porque não apareceu nada contra mim, afirmou.

Para Fábio Simão, o PMDB está agindo sobre pressão. É normal nessa hora todo mundo querer surfar na onda. Estou absolutamente tranquilo, porque o relatório mostrou que houve uma investigação tendenciosa. O deputado Benício Tavares não atendeu as ligações da reportagem.

Expulsão sumária Em março, o suplente de distrital Geraldo Naves (DEM) foi sumariamente expulso do Democratas após ter sido preso sob acusação de ter participado de uma tentativa de suborno do jornalista Edson Sombra. A expulsão foi assinada pelo vicepresidente nacional da legenda, deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto. Naves conseguiu reverter a decisão na Justiça e voltou aos quadros do partido para concorrer à reeleição no próximo pleito.

Inconstitucional O Ministério Público do Distrito Federal enfrenta uma batalha jurídica para tentar cancelar o Pdot, aprovado emabril do ano passado. O Tribunal de Justiça do DF suspendeu, em maio, 60 artigos da lei, mas oMP entrou com ação direta de inconstitucionalidade e quer a suspensão de todo o Pdot.

O órgão pretende alcançar o objetivo no Supremo Tribunal Federal.Eu não fazia a menor ideia da situação de duplo emprego desse servidor. Tão logo fiquei sabendo dos fatos, determinei procedimento para investigar a situação e tomei as providências cabíveis Chico Leite, deputado distrital pelo PT.

Distritais são poupados

De 10 deputados distritais entre titulares e suplentesinicialmente citados nas investigações da Caixa de Pandora, apenas três tiveram os nomes indicados para indiciamento pela CPI da Codeplan. Todos eles já não exercem mais mandato: Leonardo Prudente (sem partido), Eurides Brito (PMDB) e Júnior Brunelli (PSC).

Os demais investigados no Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ)Benício Tavares (PMDB), Aylton Gomes (PR), Benedito Domingos (PP), Rôney Nemer (PMDB), Pedro do Ovo (PRP), Berinaldo Pontes (PP) e Rogério Ulysses (PSB) foram poupados no relatório da CPI. O documento final chegou a produzir relatórios específicos para 11 deputados.Mas acabou concluindo que, desses, apenas três mereciam constar na lista de indiciamento, quando o relatório considera haver materialidade suficiente para atribuir responsabilidade por suposto crime cometido.

Além dos 10 investigados na Caixa de Pandora, a CPI da Codeplan se debruçou sobre o caso de Geraldo Naves, que ficou preso durante dois meses na Papuda por suposto envolvimento em tentativa de suborno de uma testemunha.

Pouco antes da votação e aprovação do relatório, Naves, que é candidato à reeleição, foi poupado. Assimcomoonome dele, o do deputado federal Osório Adriano foi retirado da lista porque os distritais consideraraminconsistentes os dados reunidos contra os dois.

Procurados, Brunelli e Prudente não foram encontrados. Eurides Brito disse quetodo ano eleitoral PauloTadeu arranjaumaCPI para aparecer e arruinar a vida de algumas pessoas. Eu vou ficar quieta no meu canto, respondendo quando for chamada, desconstruindo o que eles construíram e sorrir ao final. (LilianTahan)