Título: Governo vai explorar divisões no PMDB
Autor: Cristiano Romero e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2004, Política, p. A-6
Apesar da decisão da convenção nacional do PMDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai manter os ministros do partido no governo e buscar consolidar o apoio da sigla no Congresso. A ordem de Lula é "operar" com o PMDB dividido. Na reunião ministerial concluída no sábado, o presidente disse que só fará novas alterações no ministério em janeiro, "sem trauma nem pressa". O PMDB, que ganharia um terceiro ministério, ficará apenas com os dois que já possui. Lula convocou para hoje uma reunião com as principais lideranças do PMDB no Congresso - o presidente do Senado, José Sarney (AP), o líder na Casa, Renan Calheiros (AL), o líder na Câmara, José Borba (PR), além dos ministros Eunício Oliveira (Comunicações) e Amir Lando (Previdência Social). "Vamos ver com quem a gente conta no PMDB e tocar a vida adiante com esse povo que quer a gente", disse o presidente a um pequeno grupo de ministros após o término da reunião ministerial. Lula pediu a esses ministros que ficassem na Granja do Torto depois da reunião oficial, no sábado. Com esse grupo, ele falou mais de política e menos de assuntos administrativos. Na conversa, deixou claro que o mais importante para o governo agora é "segurar" as bancadas do PMDB no Congresso. "Vamos operar com o PMDB dividido mesmo", teria dito o presidente. Preocupado com os resultados da convenção nacional do PMDB, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, chegou a sugerir a Lula que telefonasse para o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), para lhe pedir apoio com a intenção de esvaziar ou mesmo impedir a realização da convenção. O presidente não aceitou a sugestão. "Não vou ligar para os governadores para depois eles estarem dizendo que estou pedindo isso ou aquilo. Os governadores é que vão precisar de mim. Vou superar esse negócio do PMDB com a bancada e acabou", reagiu Lula. "Não vou ligar não. Amanhã, ele (Requião) vai estar dizendo que eu liguei para ele. Deixa ele ficar fazendo os discursos dele." Na avaliação do presidente, recorrer aos governadores nesse momento seria humilhante. "Lula tem senso de autoridade", comentou um ministro. No momento em acontecia a reunião ministerial em Brasília, no Rio de Janeiro o diretório nacional do PPS decidia o rompimento do partido com o governo. Na Granja do Torto, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, era visto por Lula e seus colegas de governo atendendo a chamadas do telefone celular. Eram notícias sobre a convenção. Na reunião reservada, quando já era conhecido o resultado da reunião do PPS, o presidente sugeriu a Ciro que não desse declarações e que não tomasse nenhuma decisão por enquanto. Para Lula, a saída de Ciro do governo é tudo o que o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), quer que aconteça agora. Prosseguindo nos assuntos políticos, o presidente se queixou de seu partido, o PT. A queixa foi ao comportamento da bancada na Câmara durante a votação da medida provisória que dá status de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Naquela votação, 28 deputados do PT votaram contra a MP. Lula lembrou que os outros partidos da base aliada ao governo ajudaram a aprovar a medida e que o comportamento do PT desmoraliza politicamente a ação do Palácio do Planalto. O presidente quer que os ministros petistas ligados às tendências de esquerda ajudem nas votações dos projetos de interesse do governo no Congresso. Dois nomes citados foram os dos ministros Miguel Rossetto (Reforma Agrária), ligado à tendência Democracia Socialista, e Olívio Dutra (Cidades), que mesmo não pertencendo a nenhuma tendência é sustentado pela ala esquerdista da sigla. Na noite de sexta-feira, primeiro dia da reunião ministerial, o líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), fez uma crítica contundente ao tratamento dado pelos ministros aos parlamentares em geral e, em especial, aos da base aliada. O senador reclamou também da comunicação do governo com a sociedade e a imprensa. "Essa própria mesa aqui revela a situação da nossa relação com a base do governo. Estamos aqui eu, o Professor Luizinho (líder do governo na Câmara) e o Fernando Bezerra (líder no Congresso) na ponta da mesa", ironizou Mercadante. "Ele foi muito duro. Criticou muito a comunicação do governo com a sociedade. Se a comunicação fosse melhor, facilitaria a vida do governo no Congresso", contou um ministro. "Presidente, o Mercadante deveria ser eleito o bombeiro do ano. Vive apagando incêndio no parlamento decorrente dessa falta de confiança (dos parlamentares no governo)", brincou o senador Fernando Bezerra (PTB-RN), segundo relato de um ministro. Lula ouviu as críticas em silêncio, mas, no sábado, disse que concordava com elas, embora só tenha feito referência aos parlamentares. O presidente disse que é preciso melhorar a relação com a base, que os ministros devem atender mais os parlamentares e prestar contas das ações governamentais. Mercadante assinalou que é preciso haver mais "companheirismo" por parte dos ministros. A oitava reunião ministerial do governo Lula agradou mais que as anteriores. Idealizada para avaliar a primeira metade do mandato de Lula e estabelecer as prioridades para os próximos dois anos, consumiu dois dias. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que andou criticando setores do governo por falta de ação, gostou tanto do encontro que sugeriu que ele passe a acontecer a cada seis meses. O otimismo, gerado pelos bons resultados que a economia vem apresentando este ano, marcou o encontro.