Título: TV digital ainda terá longo caminho a percorrer no país
Autor: João Luiz Rosa e Claudia Facchini
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2006, Empresas, p. B2

À primeira vista, a discussão sobre a implantação da TV digital no Brasil, que se arrasta há oito anos, vai finalmente chegar a seu fim na quinta-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar oficialmente que o país vai adotar o padrão de modulação japonês. Mas para os consumidores e a indústria - incluídos os fabricantes de aparelhos, as emissoras de TV e as operadoras de telecomunicações - uma outra novela se inicia. A transição total do padrão analógico para o digital, na TV aberta, vai demorar cerca de 10 anos. Durante esse período, as emissoras continuarão a transmitir em ambas as tecnologias. Há uma série de obstáculos que ainda precisam ser superados. Um deles - talvez o maior - seja o baixo poder aquisitivo de boa parte da população. A transição vai custar R$ 7 bilhões segundo avaliação do Centro de Pesquisa de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). A maior fatia, de R$ 5 bilhões, dever ser paga pelos consumidores para adquirir aparelhos prontos para a recepção digital ou conversores que são acoplados aos modelos analógicos.

A diferença de preço entre os modelos digitais e os analógicos, porém, ainda é enorme. No site de comércio eletrônico Submarino, enquanto um televisor de tubo de 29 polegadas, que para muita gente ainda é um objeto de desejo, é encontrado a R$ 830, um aparelho de cristal líquido de 32 polegadas, pronto para as transmissões de alta definição, sai por R$ 6,5 mil. Ou seja, por esse valor, dá para comprar quase oito TVs convencionais.

Para a indústria, além do investimento calculado em R$ 1,5 bilhão na substituição dos sistemas de transmissão e R$ 500 milhões na digitalização dos estúdios, resta outro desafio: organizar-se de maneira a subsidiar os conversores de TV. São esses pequenos aparelhos que recebem os sinais analógicos e os transformam em digitais. Por causa do preço mais baixo, eles devem anteceder as TVs digitais na lista de compras dos consumidores, principalmente os de menor renda. Mas os aparelhos, também conhecidos como "set top boxes", não chegam a ser baratos. As estimativas iniciais são de que os conversores custariam entre R$ 300 e R$ 700. Ninguém espera, no entanto, que seja esse o preço que chegará aos usuários. Como no caso dos telefones celulares, a expectativa é de que os aparelhos sejam subsidiados. Resta saber por quem.

A confirmação de que o Brasil vai adotar o sistema de modulação japonês foi feita na sexta-feira, pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa. O anúncio oficial desta semana, disse ele, contará com a participação do ministro das Comunicações do Japão, Heizo Takenaka.

Segundo a Folhapress, Costa informou que o acordo prevê a incorporação de inovações desenvolvidas por brasileiros. O padrão de modulação, que será japonês, é o coração do sistema de transmissão digital, mas há outros elementos do sistema que podem ser projetados no país, como o sistema de compressão de vídeo.

Os japoneses, que disputaram o acordo com os americanos e, principalmente, os europeus, prometeram contrapartidas, com a possibilidade de investir numa fábrica de semicondutores no Brasil. A expectativa é de que os detalhes referentes à essa possível produção sejam esclarecidos no anúncio. (Com agências)