Título: Mesmo otimista, presidente do BC diz que não é hora de "relaxar
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2006, Finanças, p. C2

O presidente do Banco Central, (BC) Henrique Meirelles, advertiu ontem que "não há margem para complacência" na condução da política econômica brasileira, diante do cenário internacional de turbulências. "Qualquer tentativa de achar que o Brasil já fez ajuste suficiente e está na hora de relaxar, nesse momento em que os mercados internacionais estão mais nervosos e mais voláteis, pode ter conseqüências indesejáveis para o país", afirmou. "Os mercados hoje não são mais benignos, estão punindo severamente países que não têm fundamentos fortes", acrescentou. "A situação do Brasil é confortável comparada a outros emergentes, mas temos de estar alertas sobre podermos mudar a política e (achar que) nada aconteceria".

Meirelles falou em entrevista após reuniões com outros banqueiros centrais de mais de 100 países sobre o impacto do declínio dos mercados financeiros no cenário econômico global, organizadas no sábado e ontem pelo Banco Internacional de Compensações (BIS), em Basiléia (Suíça). Para vários banqueiros de nações em desenvolvimento, a economia global resistiu bem até o momento às fortes quedas nos preços do ativos, mas pode enfrentar uma desaceleração se a volatilidade dos mercados continuar.

Concordaram que o período de excesso de liquidez internacional está no fim, e se entra numa fase "mais usual". O problema é que não está claro onde a subida dos juros nos Estados Unidos vai parar, ou mesmo se vai continuar. "Não sabemos se o aumento de aversão a risco já está totalmente precificado ou se haverá futuros movimentos nos papéis, principalmente nos emergentes, o que significaria queda de preços de alguns ativos, acompanhada ou não de volatilidade", disse Meirelles. O que vai determinar o novo patamar dos preços dos ativos emergentes serão as próximas previsões e ações dos bancos centrais dos EUA e outros países industrializados, disse.

O segundo ponto de concordância entre os banqueiros diz respeito aos fundamentos de cada emergente. Países que não ajustaram as três áreas fundamentais - fiscal, balanço de pagamentos e inflação -, sofrem mais agora, caso da Turquia e da África do Sul. Como a aversão ao risco está subindo, as possibilidades de financiamento caem e esses países podem enfrentar ajustes sérios, incluindo possíveis desvalorizações cambiais com componente de inflação e aumento dos juros.

Também em entrevista a jornalistas em Basiléia, o presidente do BC da Argentina, Martin Redrado, argumentou que muitos emergentes fortaleceram suas posições diante dos mercados globais, e estão melhor preparados do que antes para enfrentar pressões.

O Brasil é visto como comparativamente melhor nesse aspecto. Meirelles não vê necessidade de medidas adicionais para diminuir turbulências futuras. "As medidas preventivas já foram tomadas nos últimos três anos, quando as reservas internacionais aumentaram de US$ 14 bilhões para US$ 64 bilhões, a dívida cambial foi eliminada, a inflação está dentro da meta", argumentou.

Indagado se estava preocupado sobre a forte saída de investimentos externos da Bovespa, Meirelles retrucou que "banqueiro central está sempre preocupado, olhando possíveis riscos para a economia". O presidente do BC confirmou, por outro lado, que o banco continua estudando a mudança no câmbio, pela qual os exportadores não seriam mais obrigados a ingressar os dólares obtidos com as vendas.