Título: China poderá ter superávit no comércio com Brasil este ano, alertam exportadores
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2006, Brasil, p. A2
O Brasil deverá voltar a ter déficit no comércio com a China em 2006, previu ontem José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele disse que enquanto a China aumenta de forma contínua as exportações de manufaturados para o mercado brasileiro, o Brasil depende dos preços do petróleo, do minério e da soja para manter a balança com os chineses a seu favor.
Caso a previsão de Castro se confirme, será o primeiro déficit comercial com a China desde 2000. De lá para cá, o Brasil teve superávits de US$ 573,6 milhões (2001), US$ 966,4 milhões (2002), US$ 2,3 bilhões (2003), US$ 1,7 bilhão (2004) e US$ 1,4 bilhão (2005). De janeiro a junho de 2006, o superávit acumulado em favor do Brasil foi de US$ 165,7 milhões. Até maio o resultado era negativo, mas o saldo de US$ 228 milhões em favor do Brasil, em junho, motivado por embarques de commodities, fez a China voltar a ter déficit.
Castro analisou a pauta de exportação da China e concluiu que os 132 principais produtos exportados pelos chineses para o Brasil são manufaturados. Ele vê inclusive uma mudança de tendência, com a China passando a focar-se em mercados emergentes, como os da América do Sul, além de atender destinos tradicionais de suas exportações, como Estados Unidos e Europa.
Chen Duqing, novo embaixador da China no Brasil, discorda de Castro: "Não vejo possibilidade de a China passar a ter superávit no comércio com o Brasil. O Brasil continuará a ter superávit com a China", afirma Chen, que assumiu o posto em abril. Ele sustenta o argumento com base nas necessidades da China de importação de commodities.
Chen disse que há muitas diferenças nas estatísticas de comércio entre os dois países. Enquanto as estatísticas brasileiras indicam um fluxo bilateral total de US$ 12,1 bilhões em 2005, pelos cálculos chineses ele foi de US$ 14,8 bilhões no ano passado, com superávit de quase US$ 5 bilhões para o Brasil. O embaixador e o vice-presidente da AEB participaram, ontem, de seminário sobre comércio e investimentos entre Brasil e China.
O embaixador disse que só no primeiro semestre do ano o Brasil exportou US$ 330 milhões em petróleo para a China. Chen também procurou minimizar o fato de que muitos compromissos de investimento da China no Brasil não saíram do papel: "Intenção de investimento é uma coisa, colocar em prática é outra. Leva tempo", disse.