Título: Raquel Landim
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2006, Brasil, p. A3

O volume de produtos exportado pelo Brasil cresceu apenas 2% no primeiro semestre do ano em relação a igual período em 2005. As empresas só elevaram as exportações em 13,5%, na mesma comparação, porque reajustaram preços no exterior e contaram com a alta das commodities. Os preços das mercadorias exportadas subiram 11,3% na comparação entre janeiro a junho de 2006 e os primeiros seis meses de 2005. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Segundo Fernando Ribeiro, economista da entidade, uma dependência excessiva da balança em relação ao desempenho dos preços pode ser perigosa. "Os preços são mais voláteis. Se houver uma desaceleração mundial, as cotações, principalmente das commodities, caem mais rápido", diz. Em 2005, a contribuição do volume e dos preços foi mais equilibrada. As quantidades embarcadas aumentaram 9,3% e os preços subiram 12,2% em relação a 2004. Na primeira metade do ano contra o primeiro semestre de 2004, era o volume que comandava o desempenho das exportações com alta de 12,3%, ante 10,3% dos preços.

Ribeiro atribui a desaceleração das quantidades embarcadas à valorização cambial, que reduziu a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, e ao aquecimento da demanda doméstica, que tornou o mercado interno atrativo. "O principal fator é o câmbio. A maioria dos setores não está operando no limite da capacidade instalada. Era possível aumentar as vendas nos mercados externo e interno", diz.

Júlio Callegari, economista do J.P. Morgan, alerta que a greve dos fiscais da Receita Federal comprometeu o desempenho em maio e junho. Ele afirma que uma parcela desses embarques só foi registrada em julho, o que está inflando os resultados desse mês. Nas duas primeiras semanas de julho em relação a igual período de 2005, as exportações brasileiras cresceram 29,9% pela média diária. Logo, a quantidade exportada pelo país no primeiro semestre deveria ter sido maior. A Funcex projeta alta de 5% para o volume exportado em 2006

Para Cristiano Souza, economista da MCM Consultores, "a greve teve algum efeito, mas esse movimento de desaceleração da quantidade já vinha acontecendo". Callegari, do J.P Morgan, ressalta que a desaceleração dos embarques já afeta produtos manufaturados e commodities. "Nenhuma classe de produtos vai bem em termos de quantidade", diz.

A quantidade exportada de produtos manufaturados e de básicos cresceu, respectivamente, 3,2% e 1,7% no primeiro semestre de 2006 ante igual período de 2005. Os preços de manufaturados subiram 9,9% e os de básicos, 13,8%. Ribeiro, da Funcex, diz que o volume embarcado de básicos pode melhorar com a entrada da safra e o fim da greve da Receita, mas ressalta que o desempenho da agricultura esse ano não é bom. Já o volume exportado de semimanufaturados caiu 2,1% no período, enquanto os preços subiram 9%. Esse grupo engloba setores como siderurgia e celulose que estão entre os poucos com restrição de capacidade.

É na distribuição por categorias de uso que aparece o bom resultado de alguns setores da exportação brasileira. Além da alta de 37,3% nos preços, a quantidade embarcada de combustíveis cresceu 43,3%. Nesse caso, ocorreu uma mudança estrutural nas exportações de petróleo com a auto-suficiência de produção alcançada pela Petrobras. No caso de bens de capital, o volume embarcado cresceu 7,2%. Callegari explica que o destaque desse setor são as máquinas agrícolas. Com o crescimento das economias da América Latina, como Argentina e Venezuela, e a crise na agricultura doméstica, esse setor tende a exportar mais.

Nas importações, o volume exportado cresce mais rápido que os preços. O país importou uma quantidade 12,6% maior de produtos no primeiro semestre do ano em relação a janeiro a junho de 2005. Os preços pagos por esses produtos cresceram 7,9%. "O cenário é todo favorável para a importação", diz Ribeiro, da Funcex. Ele explica que o câmbio barato impulsiona a compra de bens de consumo e bens de capital e a expansão da economia doméstica garante o aumento das compras de bens intermediários.

A quantidade importada de bens de consumo duráveis é o grande destaque do semestre com alta de 70% em relação ao primeiro semestre de 2005. Nesse grupo estão incluídos eletrodomésticos, produtos eletrônicos e automóveis. Ribeiro diz que esses itens estão recuperando o terreno perdido, mas ainda estão cerca de 20% abaixo dos níveis atingidos em 1997, auge do Plano Real. A quantidade importada de bens de capital também teve crescimento vigoroso: 29%.

O volume importado de bens intermediários, que respondem por mais da metade do que o país compra no exterior, aumentou 11,5%. Esse indicador sugere alguma substituição de insumos nacionais por importados.