Título: Lula diz que terá de desagradar "alguns setores domésticos"
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2006, Brasil, p. A3
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se auto-elogiou como um verdadeiro líder, ontem, diante de chefes de Estado e de governo dos principais países industrializados e emergentes, reunidos na Rússia. Após avisar que será necessário tomar "decisões que desagradarão alguns setores domésticos" para a troca de barganhas na negociação da Organização Mundial de Comércio (OMC), ele acrescentou: "Há sempre ameaça de perda de popularidade e de votos. Os críticos certamente terão seu espaço na mídia, mas os verdadeiros líderes não pensam só na defesa de interesses imediatos. Eles olham para o conjunto da sociedade."
Pouco antes, uma imagem simbolizou o ambiente de sua discussão bilateral com o presidente americano, George W. Bush. Foi quando Bush mirou para seu ventre e comentou: "Você está com ótima aparência." Visivelmente satisfeito, Lula retrucou: "É a campanha eleitoral." Lula foi encontrar Bush no bangalô destinado ao presidente americano, no complexo do Palácio Konstantinovsky, à beira do Golfo da Finlândia.
Com o presidente russo Vladimir Putin, o clima foi mais formal e de menor camaradagem. Mas Lula agradou o dirigente russo ao notar que o Brasil exporta muito mais do que importa da Rússia e que será preciso o país comprar mais produtos russos para equilibrar a balança bilateral.
Se Lula tem relação simpática com Bush e Putin, o mesmo não ocorre entre esses dois líderes. Ambos mostravam-se pouco à vontade juntos, com desdém recíproco, durante a cúpula do G-8. Numa entrevista coletiva, o clima esquentou quando Bush fez uma crítica indireta ao estado da democracia na Rússia. Putin retrucou: "Serei honesto com você, nós não queremos ter democracia como a do Iraque." Bush interrompeu dizendo: "Espere para ver."
Enquanto as delegações americana e russa davam uma lição de comunicação no G-8, os brasileiros partiram de São Petersburgo mostrando um amadorismo grotesco. Saíram correndo das reuniões para o aeroporto, ignorando jornalistas de todo o mundo que queriam ouvir a opinião de Lula sobre o resultado da reunião que ele mesmo não cessou de considerar crucial para os países em desenvolvimento. (AM)