Título: Classe média já é maioria
Autor: Martins, Victor; Braga, Braga, Gustavo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 11/09/2010, Economia, p. 16

Quase 30 milhões de pessoas saíram da pobreza e subiram para a classe C, considerada a nova classe média brasileira. Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) coordenado pelo economista Marcelo Néri, essa faixa já corresponde à maioria da população do país 50,5%, mais precisamente. A parcela foi a que mais cresceu entre 2003 e 2009, chegando a 94,9 milhões de habitantes. No mesmo período, mais de 20 milhões atingiram as classes A e B, de renda maior. Os que se enquadravam nos estratos D e E, de menor rendimento, caíram de 96 milhões para 73 milhões.

O relatório A Nova Classe Média: o Lado Brilhante dos Pobres, feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), indica que o processo de emergência da classe média brasileira foi motivado pela redução da desigualdade, mesmo durante a crise econômica mundial. Segundo Néri, a classe C se defendeu melhor durante o período recessivo. Como a desigualdade(1) caiu e a economia está crescendo, as pessoas são empurradas de baixo para cima. Foi isso que aconteceu no Brasil entre 2003 e 2009 e é isso que está ocorrendo agora, explicou.

O deslocamento dos brasileiros para classes de renda mais alta revela, na sua análise, o investimento em educação e o aumento da oferta de empregos formais, com número crescente de carteiras assinadas. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho mostram que, nos sete primeiros meses do ano, foram formalizados 1,7 milhão de postos. Mais do que a programas do governo, Néri atribuiu os avanços aos esforços da própria população.

A boa notícia é que o processo tem sustentabilidade. Não é porque os brasileiros estão indo mais às lojas, ou porque existem programas sociais e crédito. Isso é parte da história. A parte principal é que o brasileiro fez o dever de casa e está gerando renda porque trabalha e estuda. Ele é o grande personagem dessa emergência da classe média. Ele fez esse processo, disse Néri.

Segundo ele, o cenário coloca o país em situação bem diferente de lugares como Índia e China, onde a geração de riquezas vem acompanhada de aumento da desigualdade. No Brasil, o ritmo de expansão não é tão grande como nesses países, mas a economia cresce com redução da desigualdade, que era a nossa principal chaga, assegurou.

1 - Em ritmo acelerado Os brasileiros estão cumprindo as Metas do Milênio, da Organização das Nações Unidas (ONU), no dobro da velocidade prevista. Nos termos acertados pelos signatários, a pobreza deveria cair numa taxa de 2,7% ao ano. No Brasil, ela está diminuindo num ritmo de 4,32%, velocidade registrada mesmo num ano de crise econômica, destacou Marcelo Néri, coordenador do estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).