Título: Participação de Lula em debates preocupa a cúpula da campanha
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2006, Política, p. A6

A coordenação da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva ainda não definiu se o presidente participará dos debates eleitorais organizados pelas emissoras de televisão - o primeiro, na TV Bandeirantes, está previsto para o mês que vem. Pela primeira vez disputando uma eleição presidencial como titular do cargo, o PT apresenta uma série de ressalvas à presença de Lula nos debates. "Estamos recebendo os convites e avaliando. Esta questão ainda está em aberto", garantiu o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

O próprio Lula expôs, em reunião recente com petistas que integram o núcleo de campanha, preocupações com sua eventual participação nos debates, indicando que, embora não haja definição final, deles não deve participar. "Lula teme que os ataques dos adversários sejam dirigidos não apenas ao candidato Lula, mas ao presidente, desrespeitando a liturgia do cargo", confirmou a líder do PT no Senado e coordenadora da campanha em Santa Catarina, Ideli Salvatti (SC).

A reunião foi realizada no Palácio da Alvorada, na noite de 9 de julho, após a final da Copa do Mundo. Segundo Ideli, Lula quer evitar o acirramento da disputa e a "baixaria". "O presidente sabe, como todos nós, que interessa à oposição o rebaixamento do debate. Mas não podemos esquecer que Lula está no exercício do cargo de presidente da República e não pode ficar exposto a certas coisas", disse Ideli.

Berzoini defende a cautela. O presidente do PT acredita que debates com vários candidatos são perigosos. "É óbvio que candidatos pouco expressivos correm o risco de transformar qualquer encontro em um palco", disse Berzoini. O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel - nomeado coordenador da campanha em Minas - acha prudente que Lula vá apenas para debates televisivos em segundo turno. "É um cenário diferente. Seriam apenas dois candidatos, discutindo propostas, sem promover ataques gratuitos", sugeriu.

A preocupação com a participação nos debates é apenas um dos cuidados que o comando da campanha vem tendo com o candidato-Lula, a quem os petistas do núcleo que dirige o trabalho da reeleição fazem recomendações sobre como deve se comportar o candidato. O PT, no entanto, negou, ontem, por intermédio de uma nota à imprensa, que tenha elaborado um decálogo ou qualquer tipo de cartilha de orientação ao presidente a respeito de como se comportar na campanha. O jornal O Globo noticiou ontem dez sugestões do PT a Lula sobre como deve se portar. "As supostas orientações em nada correspondem às nossas avaliações e diretrizes de campanha", expôs a nota.

Mas as análises dos dirigentes acabam por confirmar as orientações. Na cartilha, recomenda-se evitar entrevistas, debates, viagens para estados onde haja divergência de aliados, comentários sobre assuntos negativos e sugere-se o esfriamento da campanha, com poucas participações em eventos públicos.

O governador do Acre, Jorge Viana, por exemplo, acredita que a recomendação central a ser seguida pelo presidente Lula é: o respeito estrito à lei. Segundo Viana, Lula está consciente disso e saberá separar o papel de candidato do papel de chefe do Poder Executivo. "É lógico que Lula gostaria de mais liberdade durante a campanha, não poderá fazer as coisas do modo com ele gostaria de fazer", reconheceu Viana.

O governador do Acre lembra que há alguns meses chegou a cogitar-se a possibilidade de o presidente licenciar-se do cargo para ter mais tranqüilidade para a campanha. "Esse assunto foi descartado. Vamos para a campanha. Quem vai julgar o Lula é a população, é ela quem tem credencial para isso", declarou.

No Planalto, assessores do presidente pensam da mesma forma. Um assessor lembrou, ontem, visita do ministro da Coordenação Política, Tarso Genro e do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Os dois levaram as principais dúvidas ao presidente Marco Aurélio Mello. A decisão foi: se há risco de impugnação, não faça", lembrou um assessor palaciano.

Na visão dos petistas, há também o imponderável. O presidente deu fartas demonstrações, ao longo de sua história, de que não se amarra à normas e cartilhas. "Evidente que vamos fazer recomendações, mas o Lula vai seguir?", questiona um petista da cúpula.

Ricardo Berzoini não vê espaço para que Lula fuja de assuntos polêmicos, deixando para que seus ministros respondam aos ataques feitos à administração petista. Alguns integrantes do Executivo, como o ministro da coordenação política, Tarso Genro, muitas vezes assumem esse papel. O que não significa omissão presidencial. "Como, em uma campanha, o candidato poderá se furtar à responder pontos polêmicos e contraditórios? Seria uma péssima imagem para o eleitor", definiu o presidente do PT.