Título: Novo IPCA pode trazer recuo maior
Autor: Safatle,Claudia
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2011, Brasil, p. A3

A nova ponderação do IPCA pode representar um ganho maior do que o esperado para a inflação de 2012. Segundo cálculos feitos por economistas do governo, se aplicada nos índices de inflação de 2009, 2011 e de 2011 (acumulada em 12 meses até outubro), a ponderação divulgada ontem pelo IBGE teria reduzido o IPCA desses anos em 0,50%, 0,47% e 0,59%, respectivamente.

Um percentual, portanto, superior ao 0,30% de redução estimada pela maioria das consultorias e bancos. O Itaú projetou diminuição de 0,50% no IPCA do próximo ano com a nova estrutura de ponderação feita com base na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2008/2009, que afeta também o INPC e, portanto, o reajuste do salário mínimo de 2013.

Supondo média de 0,31% apurada pelos analistas privados, a previsão de inflação para 2012 já cairia dos atuais 5,56% para 5,26%. O patamar ainda é superior ao centro da meta, de 4,5%, mas encurtou um pouco a distância entre o compromisso do Banco Central e as expectativas do mercado.

Ontem, começou a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a última deste ano, que deverá cortar a taxa Selic em mais 0,5 ponto percentual hoje. Os juros básicos, que terminaram 2010 em 10,75% ao ano, assumiram este ano trajetória de alta até chegar a 12,50% em julho, começaram a cair em agosto e devem fechar o exercício em 11%. A expectativa de inflação, que era de 5,35% no início do ano, esta semana estava em 6,49%, conforme pesquisa Focus. Percentual rente ao teto da meta, de 6,5%, e pouco superior às projeções do BC, que ainda conta com uma variação de 6,4% para o IPCA.

O que não está claro, no entanto, é se está em curso uma recuperação do nível de atividade econômica no ultimo trimestre do ano, conforme previsão do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo analistas de mercado, os indicadores de confiança, a produção industrial e a pesquisa mensal de comércio não revelam uma boa recuperação nos meses de outubro e novembro em relação ao terceiro trimestre, período em que o PIB deve ter ficado próximo a zero.

Isso não significa, porém, que as medidas de afrouxamento monetário - com a queda da taxa de juros - e das condições de crédito para a compra de automóveis foram inócuas para o aumento da demanda. Os economistas do setor privado acreditam que elas produzirão aumento do consumo, de forma mais visível, a partir do primeiro trimestre de 2012.