Título: Partido seguirá rachado para a sucessão presidencial
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2004, Política, p. A-8

O grupo que venceu disputa interna do PMDB na convenção de ontem não é homogêneo e tende a se dividir no momento em que o partido for discutir a sua estratégia para a eleição presidencial de 2006. Existem basicamente três alas, subdividas em situações políticas locais. O governador do Paraná, Roberto Requião e o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, são presidenciáveis e irão trabalhar de forma integral pela candidatura própria. Os governadores de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos e do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, são próximos da oposição formada por PFL e pelo PSDB e podem participar de uma frente para barrar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma terceira ala, com lideranças difusas, quer apenas substituir o antigo comando político da sigla como interlocutores com o governo federal. O presidente do partido, Michel Temer (SP), busca equilibrar-se entre todas estas correntes. No terceiro bloco, estava por exemplo, o prefeito eleito de Goiânia, Iris Rezende. "Não vejo nos convencionais um sentido de rompimento com o governo. O governo deu cargos para o PMDB, e acha que o partido está atendida, mas na verdade os pemedebistas se sentem órfãos", disse. Na eleição de 2002, o PMDB goiano se dividiu em duas alas. Parte apoiou a candidatura presidencial de Anthony Garotinho, então no PSB, e parte aderiu a Lula ainda no primeiro turno. No segundo turno, todos se uniram ao petista. Mas no governo, o PT local e o presidente desenvolveram uma política de aproximação com o governador tucano Marcone Perillo. Também neste bloco está o ex-governador de Santa Catarina e deputado federal Paulo Afonso Vieira, para quem "entregando os cargos, discutir uma coalizão com Lula para 2006 é possível". Segundo o parlamentar, "fizemos um favor para o governo ao dizer que eles não precisam mais negociar com a ala fisiológica". A possibilidade de coalizão com a oposição não é admitida por ninguém e provocou até uma retratação de um oposicionista de primeira hora, o deputado Geddel Vieira Lima (BA), que se disse , em discurso, arrependido de ter apoiado o governo tucano. "Errei no passado porque ajudei o PMDB a se afastar do caminho das urnas. Penitencio-me. 'Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa'", afirmou, batendo no peito. Mas há intensos contatos entre os pemedebistas que têm o PT como principais rivais em seus Estados com o PSDB, mesmo em São Paulo, onde Temer e o ex-governador Orestes Quércia são adversários históricos dos tucanos. A defesa da candidatura própria deve afastar os pemedebistas tradicionais da pretensão de Anthony Garotinho. Quadro histórico do partido, Roberto Requião é um nome mais palatável para os "nacionais-desenvolvimentistas" da legenda. Mas Garotinho terá o suporte do voto evangélico. Um exemplo das divisões dentro do grupo majoritário do PMDB se deu no sábado, quando se reuniram para discutir o que a convenção faria no dia seguinte. A reunião se arrastou pela maior parte do dia e só terminou próxima da meia-noite, com a proposta de pauta sendo discutida linha por linha. (CF)