Título: Falta de garantias impede ampliação de empréstimos
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2006, Brasil, p. A3

Falta de garantias para o financiamento bancário é, ainda, o maior obstáculo para ampliar a ajuda do Brasil à infra-estrutura e industrialização dos países vizinhos, segundo apontam executivos do BNDES e Banco do Brasil. Há, ainda restrições legais, como a que impede o uso de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, principal fonte de financiamento, em empréstimos a empresas não sediadas no Brasil.

"Nosso dinheiro é caro, grandes empresas talvez consigam captar recursos mais baratos no mercado internacional", reconhece o superintendente da área industrial do BNDES, Carlos Gastaldoni, ao comentar o desempenho da linha de apoio à internacionalização, do BNDES. Para receber o financiamento, a empresa assume compromissos de exportação e paga juros corrigidos por uma cesta de moedas, mais a Libor e taxas de risco.

O banco analisa projetos de duas empresas de componentes e materiais que podem chegar a US$ 100 milhões, e já aprovou operação de uma empresa do setor de cosméticos, de US$ 2 milhões. Mas só no ano passado fez o primeiro empréstimo de internacionalização, no valor de US$ 70 milhões, para a compra da argentina Swift Armour pelo frigorífico Friboi. A operação, única de vulto até agora, evitou a compra da firma argentina por concorrentes estrangeiros e ampliou os canais de venda do frigorífico brasileiro. Em maio, a cooperativa agroindustrial paranaense LAR obteve R$ 6 milhões, metade do solicitado, para montar beneficiadoras de soja no Paraguai.

"Temos recursos disponíveis, mas o mais difícil, para os países da região, é obter a garantia que mitigue o risco das operações", confirma o superintendente da área de Comércio Exterior do BNDES, Luiz Antônio de Araújo Dantas. O governo brasileiro busca apoio de instituições como a Corporacion Andina de Fomento (CAF) para garantir as operações com o menor custo possível.

Às vezes, é mal compreendida a lógica do apoio do BNDES e do Banco do Brasil: na Bolívia, as linhas do Proex foram acusadas de transgredir a Constituição local por serem disponíveis apenas a empresas brasileiras que disputavam a licitações de obras - característica comum nesse tipo de mecanismo.

Apesar das dificuldades, cresce o volume de recursos do Proex para a América Latina. As operações na modalidade equalização, que cobre a diferença entre os juros no financiamento aos exportadores e as taxas internacionais, quadruplicaram para a Argentina e decuplicaram para o Chile, o que fez o volume de recursos para essa modalidade do Proex chegar a US$ 411 milhões até maio, três vezes mais que no mesmo período de 2005. A maior parte desses recursos, porém, sustenta a venda de bens brasileiros para os vizinhos; só pequena parcela é usada em serviços para expansão de infra-estrutura local. (SL)