Título: Varejo projeta crescimento mais lento
Autor: Cristina ,Ana
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2011, Suplementos, p. G2

Aumento do poder aquisitivo da população, crescimento do número de empregos com carteira assinada e aquecimento da economia são alguns dos fatores que impulsionaram o bom desempenho das micro e pequenas empresas (MPEs) nos últimos anos. Para 2011, a expectativa de segmentos como, por exemplo, comércio e serviços é fechar o ano em alta, embora a taxas menores do que as que vinham ocorrendo. Segundo dados do Sebrae-SP, entre janeiro e setembro, o faturamento acumulado das MPES em São Paulo cresceu 3,9% em relação ao mesmo período de 2010. O setor de serviços apresentou maior evolução e aumentou 8,3%, enquanto comércio avançou 3,9%.

"Até metade do ano o varejo dava sinais de desaceleração devido às resoluções macroeconômicas tomadas pelo Banco Central (BC). Entre elas, o aumento das alíquotas de recolhimentos compulsórios dos bancos e alta da Selic", avalia Marcel Solimeo, superintendente institucional da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Entretanto, com a adoção de medidas com o intuito de impulsionar a economia, como a redução dos juros e a decisão de não mais aumentar de 15% para 20% o pagamento mínimo mensal da fatura do cartão de crédito, os efeitos foram sentidos, segundo ele. "Diante do cenário atual, a expectativa é que o varejo cresça 3% em 2011, em comparação com 2010", afirma.

Ele diz que 2010 foi um ano excepcional para o setor, marcado pelo forte crescimento da confiança do consumidor e alongamento dos prazos dos financiamentos. Vendas no varejo fecharam o ano passado com alta de 10,9%, em relação a 2009. O faturamento total foi de R$ 638 bilhões. "Vamos crescer menos este ano, mas os varejistas estão otimistas. O cenário de incerteza externa tem impactos no país, mas uma saída para a crise é apostar no grande poder de consumo do mercado interno brasileiro. As classes mais baixas estão ganhando melhor, estão mais confiantes e querem ir às compras."

A crise econômica internacional pode ainda não ter afetado o varejo diretamente, mas já preocupa a indústria. Para Milton Bogus, diretor do departamento da micro, pequena e média indústria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o setor deve apresentar queda de 5%, em comparação a 2010. "Com a crise certamente haverá pressão para que as pequenas indústrias exportadoras diminuam seus preços. Muitas perdem contratos no exterior. Ocorre queda na produção. Além disso, não raro as empresas menores que terceirizam para indústrias maiores perdem clientes. Para conter gastos, os grandes param de fazer negócios com os pequenos", lamenta Bogus.

Bogus afirma também que a competição com produtos importados prejudica o crescimento do setor. "As multinacionais optam por comprar produtos lá fora porque eles estão mais em conta. E isso prejudica as micro e pequenas indústrias que vendem para essas empresas, principalmente as voltadas para os setores de autopeças, energia e máquinas."

De acordo com estudo feito recentemente pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), 45% das micro e pequenas indústrias perderam mercado para os importados. A pesquisa aponta que 39% das indústrias usam matéria-prima importada na fabricação de suas mercadorias, 38% dizem que utilizam peças importadas porque o preço é mais baixo e 30% pretendem importar mais. O Estado de São Paulo tem 150 mil indústrias, sendo que 98% são micro e pequenas empresas. Elas respondem por 60% dos empregos do setor.

Para o próximo ano, o diretor da Fiesp diz que o cenário não é animador. "Tudo vai depender do desenrolar da crise. Mas a princípio acho que será um ano de muita cautela e se houver crescimento ele será tímido."

Fernanda Della Rosa, assessora econômica da Fecomercio-SP, diz que neste ano as vendas de Natal devem ter crescimento. "A taxa de desemprego ficou estável em 6%, o que é um número baixo. Apenas 8% das famílias da capital paulista têm contas atrasadas em novembro. É o menor nível de contas em atraso desde que começamos a fazer a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), em fevereiro de 2004. Naquela época o índice atingiu a marca de 25,7%", afirma.

Outro recorde observado em novembro é o total de famílias inadimplentes. Só 3,3% dos paulistanos encontram-se nessa situação. "O consumidor está mais confiante e crise internacional ainda não teve grandes impactos para nós, o que causaria desemprego. Portanto, não acho que teremos um fim de ano com menos vendas do que em 2010", diz Fernanda.

A PEIC mostra ainda que o cartão de crédito é o principal meio usado para adquirir dívidas, sendo que 76,3% dos paulistanos devem no cartão. Dívidas no carnê representam 22,4% e 11,4% devem no crédito pessoal.

Segundo a economista, setores como o de vestuário e de eletrônicos vão se destacar nas vendas de Natal. "Como o índice de endividamento está baixo, as pessoas sentem segurança para parcelar a compra produtos mais caros. "