Título: Produtores de café devem colher volume até 20% menor em 2005
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2004, Agronegócios, p. B-9
A primeira estimativa da safra 2005/06 de café do Brasil indica que a colheita do grão no país deverá ficar entre 30,7 milhões de sacas e 33 milhões de sacas de 60 quilos. A oferta nacional será entre 14,5% e 20,4% menor que o ciclo anterior, cuja colheita foi estimada em 38,6 milhões de sacas, de acordo com o último levantamento feito pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), divulgado na sexta-feira. Os números do governo brasileiro não surpreenderam o mercado. "Alguns analistas internacionais esperavam que o governo brasileiro divulgasse uma colheita ainda menor", disse Rodrigo Corrêa Costa, da Fimat Futures. No mercado, contudo, o sentimento é de que a safra de café brasileira poderá atingir 34 milhões de sacas. Os dados oficiais do governo indicam uma colheita entre 30,7 milhões e 33 milhões de sacas, a partir de abril de 2005. A produção de café arábica está estimada entre 21,5 milhões e 23,4 milhões de sacas e, o tipo robusta, de 9,2 milhões a 9,55 milhões de sacas. A queda do volume consolidado sobre o ciclo anterior reflete, em parte, a bianualidade da safra, que está em sua fase baixista. A Conab também atribui o recuo à redução da área plantada e à erradicação de lavouras em alguns Estados.
Para os exportadores brasileiros, se esses números se confirmarem, o Brasil perderá participação no mercado internacional de café em 2005. A fatia brasileira atual é de 30% no exterior. "As exportações deverão ser de 20% a 25% menores", estimou Guilherme Braga Abreu Pires Filho, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Braga disse que a participação brasileira no exterior poderá cair de 6 a 7 pontos percentuais. As exportações brasileiras devem encerrar este ano em US$ 2 bilhões, um incremento de 29% sobre 2003, segundo o Cecafé. Os volumes embarcados devem ser de 26 milhões, repetindo os volumes de 2003. Para 2005, poderá cair para 20 milhões de sacas. Mas as receitas poderão ser até 20% maiores, estimou Braga. Já os produtores de café consideram os números divulgados pela Conab otimistas. Segundo Osvaldo Paiva Ribeiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), houve problema nas floradas do grão, o que poderá comprometer ainda mais a colheita. O secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, Linneu da Costa Lima, não acredita que o Brasil tenha uma perda expressiva de participação no mercado internacional em 2005. A preocupação do governo, segundo Costa Lima, é em relação ao primeiro semestre de 2006, cujas previsões são de oferta apertada, com os estoques ajustados. Costa Lima disse que os estoques de café do governo brasileiro são de cerca de 4,3 milhões de sacas. "Vamos fazer leilão quando for necessário, mas teremos que conter os volumes para ter o que ofertar nos primeiros meses de 2006", disse. Além dos estoques oficiais, há cerca de 430 mil sacas nas mãos do governo, volumes estes relativos aos contratos de opção. "O governo estuda alternativas para dar equilíbrio aos preços do café." Há uma preocupação dos cafeicultores com um movimento de euforia, que poderá ser desencadeado no mercado internacional, por conta da recuperação dos preços da commodity. Os produtores brasileiros temem que países produtores da América Central e asiáticos, que reduziram boa parte da produção de café, voltem a investir nas lavouras em razão das atuais cotações do grão, que já acumulam no ano valorização de 45,5% no mercado internacional. Segundo Costa Lima, os preços do café começam a ficar remuneradores para os produtores brasileiros, uma vez que já ultrapassam US$ 80 por saca, e estimulam os países produtores menos competitivos quando ultrapassam US$ 100 a saca. Na sexta-feira, os contratos do café para março fecharam a 97,30 centavos, em Nova York, com recuo de 0,6%. A queda refletiu movimento técnico e não sofreu influência do relatório divulgado pela Conab, uma vez que o anúncio foi feito após o fechamento do pregão da bolsa americana.