Título: Preferência de Lula pelo PMDB preocupa PT e amplia crise com aliados
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2006, Política, p. A8

A crise na relação com o PSB e o PCdoB pode levar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a perder quase a metade do tempo do horário eleitoral gratuito, mas é a opção preferencial de Lula pelo PMDB o que mais causa apreensão no PT, neste momento. Preocupação compartilhada também pelos demais aliados do governo, temerosos de que presidente vire refém do gigante pemedebista em eventual segundo mandato.

Na última recomposição política do governo, o PMDB ampliou seus espaços e passou a ocupar três ministérios fortes - Comunicações, Minas e Energia e o da Saúde, posto que o PT considerava estratégico, mas do qual teve de abrir mão, a muito custo. Em um novo mandato de Lula, a expectativa da sigla é dobrar esse número, passando a ocupar pelo menos seis ministérios, de maneira " verticalizada " , conforme as negociações em andamento com o presidente Lula.

Por ocupação " vertical " dos ministérios deve-se entender que, além do ministro, o PMDB preencheria os principais cargos de cada Pasta. O partido se queixa de não ter conseguido nomear seus apadrinhados para todos os cargos dos três ministérios, mas é certo que exerceu influência política, sobretudo nas Comunicações, onde Hélio Costa tem participação efetiva nas discussões sobre a escolha do padrão de TV digital. Nas Minas e Energia, Silas Rondeau aos poucos sai da sombra da ex-titular Dilma Rousseff, hoje na Casa Civil.

Enquanto discute sua participação num próximo governo, o PMDB pressiona Lula para restaurar seu espaço no governo atual, diminuído com a decisão do ministro Saraiva Felipe (Saúde) de deixar o cargo para disputar as eleições. Com cera de R$ 30 bilhões, a Saúde é o maior Orçamento da República, após a Previdência Social, e o maior, quando se exclui pessoal e os benefícios previdenciários da conta. Lula prometeu uma solução para esta segunda-feira, mas há ceticismo na cúpula pemedebista: o presidente já fez a mesma promessa antes.

A reacomodação nos termos do PMDB, para o final deste mandato, teria sido mais fácil se o partido tivesse concordado em se coligar formalmente com PT, conforme o convite feito pelo presidente. Mesmo sem uma coligação formal, o presidente quer o PMDB como parceiro preferencial num segundo mandato de modo a assegurar maioria congressual com um matiz de centro-esquerda.

Aliados históricos de Lula, PSB e PCdoB também vêem com apreensão os movimentos do PMDB, mas têm preocupações mais imediatas: a dificuldade do PT de ceder espaço para compor alianças. Com o impasse, as duas siglas ameaçam até não se coligar com o presidente nas eleições, o que levaria o tempo de Lula no horário eleitoral gratuito a cair de oito minutos e 22 segundos para cinco minutos e 44 segundos. A aliança com o PFL assegura a Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, nove minutos e 22 segundos, tempo que pode aumentar se outro partido vier a entrar na coligação. O PPS, por exemplo.

As principais queixas do PCdoB referem-se às eleições do Distrito Federal, Ceará e Tocantins. Em Brasília, o PT decidiu apresentar a candidatura da deputada distrital Arlete Sampaio, dividindo os votos da esquerda - os comunistas avaliam que seu candidato, o ex-ministro dos Esportes Agnelo Queiróz é mais competitivo. Em Tocantins e no Ceará o PT tem outras opções que os candidatos do PCdoB ao Senado, respectivamente, o senador Leomar Quintanilha e o deputado Inácio Arruda.

Em relação ao PSB, o principal problema é Pernambuco, onde Humberto Costa não abriu mão de sua candidatura ao governo em nome de uma aliança com o deputado Eduardo Campos. As duas siglas se queixam de que Lula, enquanto fala preferencialmente com o PMDB, as relega à própria sorte com o PT, onde não haveria mais um comando forte como o do ex-ministro José Dirceu capaz de se impor perante as correntes do partido. Como fez, por exemplo, na escolha de José Alencar como vice de Lula, há quatro anos.