Título: Empresas traçam plano B para possível fim do euro
Autor: Barber,Tony
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2011, Finanças, p. C5

Empresas internacionais estão preparando planos de contingência para uma possível dissolução da zona do euro, de acordo com entrevistas com dezenas de executivos de multinacionais.

Preocupados com que os líderes políticos europeus não estão conseguindo controlar o alastramento da crise de dívida, executivos dizem sentir-se compelidos a proteger suas empresas contra um colapso cuja realidade está se materializando. Quando a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy levantaram a possibilidade de uma saída dos gregos da zona do euro, no início do mês, foi a primeira vez que altas autoridades europeias ousaram questionar a longevidade de 13 anos da união monetária.

"Nós começamos a analisar as consequências [de uma ruptura]", disse Andrew Morgan, presidente da Diageo Europa. "Se tivermos algum tipo muito maior de mudança em torno do euro, ficaremos em uma situação totalmente distinta. Se países saírem da zona do euro, teremos desvalorizações enormes que tornarão marcas importadas muito, muito caras".

As preocupações dos executivos estão emergindo num momento em que ministros das Finanças da zona do euro ponderam opções cada vez mais radicais para combater a crise de dívida soberana, inclusive a possibilidade de canalizar empréstimos do Banco Europeu Central (BCE) para países em dificuldades por meio do Fundo Monetário Internacional.

Fabricantes de automóveis, companhias o setor de energia, empresas de bens de consumo e outras multinacionais estão reduzindo o risco colocando suas reservas em investimentos seguros e controlando despesas. A Siemens fundou seu próprio banco, a fim de depositar fundos no BCE.

Alguns analisam as consequências jurídicas de um fracionamento da zona do euro sobre contratos comerciais e acordos de empréstimos envolvendo empresas de diferentes países do euro. "Os participantes do mercado e, cada vez mais, empresas reais, estão precificando um cenário de ruptura", disse Jean Pisani-Ferry, diretor do Instituto Bruegel, de Bruxelas.

Algumas empresas com presença mundial acreditam que uma ruptura da zona do euro preocupante, mas controlável. Jürgen Dieter Hoffmann, diretor financeiro da subsidiária portuguesa da Volkswagen, disse: "A conclusão é que, em geral, o impacto não seria tão negativo para nossa companhia, já que somos predominantemente exportadores e pertencemos a um grupo com presença em todo o mundo".

Alguns executivos franceses, italianos e espanhóis já elaboraram planos para enfrentar turbulência financeira e econômica grave, mas não especificamente para uma cisão da zona do euro. Eles temem que a estabilidade da região possa ser submetida a uma ameaça ainda maior se for tornado público que eles estão pensando o pior.