Título: Fiesp descarta apoio à proposta de dar "um passo atrás" no Mercosul
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Brasil, p. A3

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) decidiu que, por enquanto, não apoiará a transformação do Mercosul de união aduaneira em área de livre comércio. Em reunião do Conselho Superior de Comércio Exterior (Coscex) realizada ontem, os empresários optaram por condenar o "descumprimento sistemático" das regras do bloco e por repudiar a proposta de adoção de salvaguardas do governo argentino. Segundo Rubens Barbosa, presidente do Coscex, a Fiesp entrará em contato com o governo para manifestar sua apreensão sobre os rumos do Mercosul. "O setor privado está preocupado com o descumprimento sistemático das regras", disse. Ele se refere às restrições impostas pelo governo argentino à importação de alguns produtos brasileiros e às "perfurações" da Tarifa Externa Comum. "O conselho se manifestou contrário às salvaguardas, porque descumprem os tratados do Mercosul", diz Barbosa, que já foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos. A Argentina reivindica a adoção de salvaguardas (tarifas ou cotas) para proteger sua indústria das assimetrias econômicas dos países do Mercosul. Conforme Barbosa, a Fiesp acompanhará se os planos dos governos para o Mercosul, chamados de "Objetivo 2006", estão sendo colocados em prática. E, por enquanto, fica descartado o apoio à proposta de transformar o Mercosul em área de livre comércio. O presidente do Coscex pondera que, com a recuperação das economias brasileira e argentina, os níveis do comércio no Mercosul estão aumentando. Esse não seria, portanto, o momento adequado para decisões "drásticas". Mas a entidade continuará monitorando os avanços do bloco e poderá rever essa posição. "As barreiras têm que ser revogadas", reforça Barbosa. A proposta de "um passo atrás" no Mercosul, com a volta a uma área de livre comércio, é defendida pelo diretor de comércio exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca. Ele acredita que o protecionismo argentino está impedindo o país de fechar acordos com os Estados Unidos e a União Européia. A Fiesp é uma das coordenadoras da Coalizão Empresarial Brasil - Argentina, formada recentemente para buscar uma coordenação macroeconômica do bloco e tentar dirimir os conflitos. A Coalizão se reuniria hoje em Belo Horizonte, em meio aos encontros preparatórios da XXVII Cúpula de Presidentes do Mercosul. Mas o encontro foi adiado para janeiro. Durante a reunião do Coscex, os empresários também manifestaram seu descontentamento com a cotação do dólar. Eles acreditam que o câmbio poderá prejudicar o resultado das exportações, reduzindo "substancialmente" o saldo da balança comercial em 2005. Apesar de intervenção do Banco Central, o dólar caiu ontem para R$ 2,766.