Título: Pedidos para início de 2005 sobem até 20%
Autor: Claudia Facchini, Sérgio Bueno e Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Brasil, p. A4

A economia deve manter um ritmo de atividade acelerado no primeiro trimestre de 2005. Os pedidos de reposição de estoques já começaram a chegar à indústria e indicam encomendas entre 7% e 20% maiores do que no início de 2004 para os bens de consumo duráveis. Para os bens cuja demanda está mais relacionada à renda da população - como alimentos e semiduráveis - a expectativa é um pouco menor, mas ainda positiva. As indústrias de eletroeletrônicos já estão recebendo as encomendas para o mês que vem, quando o varejo aposta nas liquidações para atrair clientes que preferem gastar o 13º salário depois do Natal, sem ter de enfrentar filas. As promoções na virada do ano e em janeiro são hoje previamente planejadas pelo comércio e servem como uma ferramenta de marketing. As expectativas são de que as lojas terminem o ano sem encalhe. "O primeiro trimestre deve ser melhor do que os primeiros três meses de 2004, mas as nossas projeções são cautelosas", pondera Frederico Trajano, diretor do Magazine Luiza. Segundo ele, a varejista já começou a negociar as encomendas para o início de 2005 e projeta que o desempenho das vendas continue no terreno positivo, mas não há fatos novos que sinalizem uma retomada forte. Paulo Ferraz, vice-presidente de eletrônicos de consumo para América Latina da Philips, confirma que há um "bom" ritmo de reposição de estoques do varejo para janeiro. A empresa prevê um crescimento nas vendas no início de 2005 entre 7% e 8% , nível que deve ser mantido ao longo do ano. Segundo Ferraz, 2004 foi um ano "excepcional". A Philips cresceu 35%. O mola propulsora para a retomada do consumo de eletrodoméstico, cuja demanda estava represada, foi o alongamento das prestações pelo varejo. As parcerias firmadas recentemente com os bancos darão às varejistas mais fôlego para a concessão de crédito. A Casas Bahia fechou uma parceria com o Bradesco, que entra em vigor em 2005, e a rede de lojas BestMix/Panashop firmou um acordo com o HSBC. Edson Pinto, diretor comercial da BestMix/Panashop, afirma que, com a parceria com HSBC, a varejista irá estender os prazos de 12 para 18 prestações em janeiro, com juros de 3,99% no cheque e 2,99% no cartão. "Já estamos 'comprados' para janeiro", diz Pinto, que projeta um crescimento entre 15% e 20% nas vendas em relação a janeiro de 2004. Apesar da previsão de que 2005 não deve apresentar uma taxa tão robusta de crescimento como os mais de 45% registrados em 2004, o grupo Randon, de Caxias do Sul (RS), está encerrando o ano com um nível de encomendas até duas vezes maior do que os 45 a 60 dias de produção de 12 meses atrás. "Estamos com uma carteira de pedidos muito confortável para o início do ano", afirma o diretor corporativo e de relações com investidores do conglomerado, Astor Schmitt. Nas linhas de autopeças, como freios e sistemas de suspensão, já há pedidos "firmes" das montadoras para o primeiro e o segundo trimestre, informou Schmitt. Conforme o executivo, o desempenho registrado em 2004, quando as empresas da Randon devem alcançar uma receita bruta total superior a R$ 2 bilhões, levou o grupo a contratar 600 pessoas ao longo do ano, elevando o quadro total para perto de 6,2 mil funcionários. Na Mundial, fabricante de produtos de cutelaria, talheres e componentes de fixação, os níveis de encomenda neste fim de ano estão 15% a 20% superiores em comparação com o mesmo período de 2003 e as carteiras de pedidos oscilam entre um e três meses de operação. "O varejo está repondo estoques", comentou o diretor-superintendente, Michael Ceitlin. Segundo o empresário, a companhia pretende investir entre R$ 18 milhões e R$ 20 milhões em 2005 em modernização e ampliação das fábricas em Gravataí e Caxias do Sul. Apesar da virada de ano aquecida, Ceitlin não arrisca uma estimativa de crescimento para a receita bruta em 2005 ante os R$ 360 milhões previstos neste ano. "Nossa meta é que não caia", afirmou. Segundo ele, o maior risco para a indústria é o ritmo de alta na taxa de juros implementado pelo Banco Central. Uma das principais fabricantes nacionais de baterias automotivas, a pernambucana Baterias Moura, está operando sua unidade, em Belo Jardim, com três turnos de produção. "Estamos incrementando a produção de dezembro em pelo menos 15%. Isto acontece em função dos pedidos de nossos clientes, que estão apostando em um crescimento para 2005, e por parte do lançamento de novos produtos", diz o vice-presidente financeiro da empresa, Paulo Sales. Segundo o executivo, boa parte da produção de dezembro já é destinada a atender os pedidos de reposição de estoques para o próximo ano. De acordo com ele, o reaquecimento da economia tem levado os clientes da empresa, tanto na área de montadoras como de reposição, a ampliarem seus pedidos. Atualmente, do volume de negócios da Moura 25% vem do segmento de montadoras, 65% do segmento de reposição e o restante de vendas internacionais. A Moura, que deve fechar o ano com um crescimento de 15% sobre o exercício passado, também projeta um crescimento da ordem de 15% para 2005. Até o final de 2004, a indústria pernambucana deverá produzir cerca de 3,3 milhões de baterias automotivas. A cearense Santana Têxtil também está se preparando para reforçar um crescimento no volume de pedidos para o começo do próximo ano. Segundo o diretor de marketing da empresa, Delfino Neto, a empresa costuma dar férias coletivas aos funcionários no início do ano, mas esse ano dará apenas 15 dias. "Normalmente temos um estoque pequeno, de cerca de dois dias de produção. Agora, por conta do crescimento de pedidos estamos com o equivalente a 7 dias de estoque para atender a demanda futura", diz Delfino. A expectativa é de que o mês de janeiro próximo tenha um incremento de 20% sobre o mesmo período de 2004.