Título: Alimentos e materiais de construção mantêm planos à espera da renda
Autor: Daniela D'Ambrosio, Vanessa Jurgenfeld e Ivana Mor
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Brasil, p. A4

Apesar das boas vendas na virada de ano, a indústria de bens de consumo não duráveis e semiduráveis ainda não sente a recuperação econômica a ponto de planejar aumento extra no ritmo de produção no início do próximo ano. Indústrias de alimentos, calçados e materiais de construção mantém os planos anteriores, sem hora-extra na produção. "A melhora demora mais a chegar no setor de alimentos", afirma Gilberto Xandó Baptista, diretor de marketing da Sadia. "Falta chegar nos bens de consumo com mais força", completa Nelson Mello, presidente da Assolan. A Sadia trabalha com a expectativa de ter o melhor Natal dos últimos três anos, com crescimento entre 5% e 10%. "Estamos tendo uma melhora gradativa desde julho e, se continuar assim, teremos um janeiro melhor do que o do ano passado", afirma Baptista. Por trabalhar com produtos perecíveis, a Sadia faz entregas diárias e não tem colocação antecipada de pedidos. A empresa não deve aumentar a produção com temporários ou horas-extra. "Teremos o mesmo efetivo do ano passado nos pontos-de-venda." A Assolan trabalha com uma expectativa de alta de 3,5% das vendas no primeiro trimestre de 2005. "Mas já estávamos programados, não vamos mudar o ritmo de produção", diz Nelson Mello, presidente da companhia. A empresa deve fechar 2004 com um aumento de 6,0% a 6,5% em volume. De acordo com o diretor comercial da fabricante de cerâmica Eliane, Antônio Carlos Loução, 2004 foi um ano em que o lojista do setor de construção civil procurou reduzir o estoque para rentabilizar o capital. Com a expectativa de aquecimento da economia nos próximos meses, o mercado deve se equipar para não deixar cliente sem produto. A reposição de estoques que, segundo ele, tem ocorrido com freqüência mensal, pode vir a acontecer quinzenalmente, mas só se a expectativa de aquecimento se confirmar. "2004 não foi um ano confortável no mercado doméstico. Mas estamos confiantes de que 2005 será melhor. Há sinais de melhora. Os juros nos próximos 60 dias devem ficar altos, mas temos a expectativa de que voltarão a cair". Para o presidente da fabricante de escovas Condor, Ernoe Eger, o ritmo de reposição de estoques, que hoje varia de 35 a 40 dias, deverá diminuir em 2005, como um reflexo de confiança. "Tenho expectativa de queda porque não vejo descontinuidade da política econômica atual e há consistência na evolução", diz. A empresa, que até novembro apresentou crescimento de 30% no faturamento, acredita que em 2005 fechará o ano com alta de 41% nas vendas. As indústrias mineiras de calçados ainda não estão contando com um grande crescimento das vendas em dezembro, que justificaria aumento da produção em janeiro e fevereiro para reposição dos estoques dos lojistas. "No mercado interno o crescimento ainda é modesto", afirmou o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Minas Gerais, Gilson Xavier de Oliveira. Ele também é dono da Oto Calçados, da marca Spatifillus. Segundo Oliveira, o que anima o setor são as exportações. Por causa delas, muitos fabricantes suspenderam férias coletivas e estão pensando em manter parte da mão-de-obra contratada apenas para o fim de ano. O empresário pretende efetivar metade dos 100 funcionários contratados como extras, mas não em função de vendas internas. A exporta calçados para a Espanha. A expectativa é fechar 2004 com um crescimento no mercado doméstico entre 6% e 7% e ter aumento também pequeno em 2005. Presidente do sindicato das indústrias de bolsas e acessórios, Getúlio Guimarães, tem a mesma avaliação. "Esse crescimento esperado, se for verdade, ainda não chegou no varejo". Na sua própria fábrica, no entanto, novos pedidos de lojistas para entrega ainda no mês de dezembro estão surpreendendo. Guimarães é dono produz bolsas e acessórios da marca Getúlio. "Lojistas que costumavam receber uma só remessa no fim de novembro ou início de dezembro fizeram encomendas para a segunda quinzena do mês." A indústria de bebidas está otimista. A Ambev, que trabalha com uma expectativa de aumento das vendas de 10% no quarto trimestre, contratou 600 temporários até fevereiro. A Schincariol trabalha com capacidade ociosa de cerca de 15% durante o ano em suas fábricas para operar em plena produção agora. A empresa, que contratou 150 temporários no ano passado, vai aumentar o número de vagas em 15% este ano.