Título: Marta anuncia apoio a Haddad e diz que estilo de ir na jugular a fez desistir das prévias
Autor: Costa,Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2011, Política, p. A8

Após conversar durante uma hora e meia com o ministro Fernando Haddad (Educação), em Brasília, a senadora Marta Suplicy anunciou ontem que vai apoiar e se engajar na campanha do candidato escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a Prefeitura de São Paulo, nas eleições municipais do próximo ano.

Marta desistiu porque Haddad é o nome preferido de Lula. Ela não assegura que venceria a prévia contra a dupla Haddad-Lula. "É uma interrogação", diz. Mas de uma coisa ela se diz absolutamente convencida: a disputa "estralhaçaria" o PT.

Ela defende o instituto das prévias, mas reconhece que a disputa, desta vez, seria diferente da que foi obrigada a disputar em 1998 para sair candidata ao governo do Estado, quando teve como adversário um companheiro, Renato Simões, minoritário no partido. Serviu para ela conhecer o Estado e a militância.

"Eu não sou uma pessoa que faz o debate numa "nice". Eu vou na jugular", diz Marta, para explicar sua desistência. "Pra que que eu ia fazer um trabalho para os adversários"? Segundo a senadora, isso seria inevitável numa disputa entre ela, Haddad e os deputados federais Jilmar Tatto e Carlos Zarattini, os pré-candidatos às prévias canceladas do PT.

"Se eu ganhasse, sobraria um partido rachado, com ódio mortal dos apoiadores do Haddad; e se o Haddad ganhasse sobraria uma pessoa também bastante avariada". A senadora afirma: "Eu não podia fazer isso com o meu partido, porque tem o "day after". O que é que iria acontecer, depois, com ele ou comigo? Aí a gente acabaria com a chance de o PT ir para a prefeitura".

Em entrevista ontem ao Valor, Marta deixou claro que a campanha de Haddad recorrerá muito ao fato de que o ministro terá mais condições de governar a cidade do que o PSD ou PSDB, por ser um aliado da presidente da República. "Outras cidades importantes, como o Rio de Janeiro, se beneficiaram enormemente com recursos federais, em várias áreas", diz a senadora, depois de criticar o atual prefeito, Gilberto Kassab, que, segundo a senadora, não quis ou não soube como carrear dinheiro federal para São Paulo.

Na conversa com o ministro, a senadora também combinou o "resgate" das marcas do governo do PT na cidade, ou seja, do governo de Marta (2001-2005), como a retomada do conceito original dos CEUs. "Eu acho que esse legado tem que ser resgatado. Porque a gente tem que mostrar que sabe fazer, tem que mostrar que o outro finge que faz e tem que mostrar o novo", diz.

Mostrar o que é o novo é o desafio de Haddad, segundo Marta. O dela é "como colocar essas marcas [de seu governo] em outra candidatura [de Haddad]. Mas é um desafio que eu vou me empenhar em fazer".

Para que isso aconteça, o PT vai precisar de tempo de rádio e de televisão para contar o "passado" e apresentar o "novo" - a administração de Fernando Haddad no Ministério da Educação. Marta está convencida de que PT e PMDB farão uma aliança para a eleição, só não está segura se isso ocorrerá no primeiro ou no segundo turno.

Para a senadora, este é um assunto a ser resolvido pelo vice-presidente, Michel Temer, e o deputado federal Gabriel Chalita, que se filiou ao PMDB na expectativa de ser o candidato a prefeito da sigla, em São Paulo, em 2012. O Valor apurou com outras fontes do PT que Lula, antes de se recolher para tratamento de saúde, trabalhava no sentido de que Chalita fosse indicado candidato a vice na chapa de Haddad. Quando disputou a reeleição, em 2004, Marta dispensou o apoio do PMDB.

A senadora se recusa a falar sobre a eventualidade de compor o ministério da presidente Dilma Rousseff, na reforma prevista para 2012, mas é certo que seu nome faz parte do leque de opções da presidente.

Apesar da "frustração" que sentiu ao deixar a disputa paulistana, Marta é só elogios, quando fala de Dilma, ao modo como ela conseguiu imprimir uma marca própria ao governo e como tem lidado com as sucessivas crises no ministério. "Acho que ela conseguiu uma forma particular, muito dela, de deixar os próprios partidos perceberem quando retirar os seus ministros, e manter a sua base, sem a qual ela não aprova um projeto em quatro anos".