Título: PIB vai crescer menos, mas bem-estar deve ser melhor
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Brasil, p. A5

O Brasil deve crescer menos em 2005 do que neste ano, mas a contribuição da demanda interna para a expansão da economia será maior. Para alguns analistas, isso significa que "a sensação de bem-estar doméstico será melhor do que em 2004", ainda que a taxa de crescimento seja mais baixa, como afirma o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria Integrada. Ao lado do investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos - a chamada formação bruta de capital fixo (FBCF) -, o consumo das famílias deve ser o principal motor do crescimento em 2005, devido à expectativa de continuidade do aumento da ocupação e da renda real, ainda que a um ritmo não muito intenso. Jensen prevê uma expansão do PIB de 5% em 2004 e de 3,5% no ano que vem, estimativas bastante próximas às da média do mercado. A diferença importante, ressalta ele, é que a absorção doméstica - formada pelo consumo das famílias, o consumo do governo e o investimento - deve ter um desempenho melhor no ano que vem, contribuindo com 4,9 pontos percentuais para o crescimento em 2005. Para Jensen, o resultado do PIB deve encolher para 3,5% porque o setor externo deve ter uma contribuição negativa de 1,4 ponto percentual, pois as importações vão crescer 16,6%, bem mais que os 5% previstos para exportações. Em 2004, considerando avanço de 5% do PIB, 4,1 pontos vêm da absorção doméstica e 0,9 ponto do setor externo. O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, também diz que o principal impulso ao crescimento em 2005 virá da demanda interna. Para ele e para Jensen, a FBCF deve registrar a taxa de expansão mais alta, o que é positivo, por indicar que as empresas vão continuar ampliando a capacidade produtiva da economia no ano que vem. Jensen projeta um avanço de 6,5% da FBCF em 2005, o que significa uma contribuição direta de 1,3 ponto percentual para o crescimento no que vem. Mas a "sensação de bem-estar" em 2005 pode ser melhor especialmente se se confirmarem as previsões de crescimento robusto para o consumo das famílias, que corresponde a cerca de 56% do PIB. Se crescer 5,6%, o componente deve contribuir com 3 pontos para a expansão de 2005, estima a Tendências. Para Borges, os setores de bens semi e não duráveis (como alimentos e vestuário) devem liderar o crescimento nos próximos meses, por conta da expectativa de continuidade de recuperação gradual do nível de ocupação e de renda. Borges acredita que a massa real de salários, depois de avançar 6,5% neste ano, aumente 5% em 2005. O otimismo de Jensen quanto à expansão do consumo também se baseia na perspectiva de melhora das condições do mercado de trabalho nos próximos meses. Ele estima que o número de empregos formais e informais vai crescer 2,5% em 2005 - em 2004, o aumento fica na casa de 3%. Não é uma expansão significativa, mas é importante por consolidar a tendência iniciada neste ano, avalia. Há ainda o pressuposto, por parte da maioria dos analistas, de que a alta dos juros está próxima do fim, não devendo, com isso, afetar significativamente o custo do crédito. Outra boa notícia é que a construção civil, setor que emprega muito, deve seguir em crescimento nos próximos meses. Borges, por exemplo, acredita que o PIB da construção possa registrar expansão de 5,5% em 2005, depois de crescer 5% neste ano. "É um setor muito intensivo em mão-de-obra e que pode se beneficiar se houver alguma aceleração nos gastos públicos", afirma ele. Vale lembrar que a construção civil corresponde a cerca de 60% da FBCF, componente da demanda para a qual se projeta bom desempenho. Borges diz ainda que o cada vez mais provável aumento do salário mínimo para algo como R$ 290 ou R$ 300 deverá ter efeitos positivos sobre o consumo, ainda que concentrado na população de baixa renda. Outro fator que também pode ajudar é a eventual correção da tabela do Imposto de Renda (IR). A medida, lembra Borges, preserva uma parte maior da renda disponível dos assalariados. A economista Mônica Baer, da MB Associados, vê com algum ceticismo a afirmação de que "a sensação de bem-estar" será melhor em 2005, especialmente devido ao comportamento e as perspectivas pouco animadoras da renda - em outubro, o rendimento real caiu 1,2% em relação a setembro. "O que se pode dizer é que o crescimento será sustentado principalmente por fatores domésticos." O problema, segundo Mônica, é que ainda há "muita gente com salários muito baixos", e não há sinais de que haverá grande mudança nesse quadro. Ela também não acredita em muitos progressos na redução da taxa de desemprego, que ficou em 10,5% em outubro. Em dezembro, a taxa deve cair abaixo de dois dígitos, mas tende a voltar a um nível superior a 10% no começo do ano que vem, diz ela.