Título: Bancos europeus encolhem em emergentes
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2011, Finanças, p. C5

Os bancos da zona do euro deverão reduzir em pelo menos US$ 500 bilhões em ativos nas economias emergentes, para se recapitalizarem e cumprir até julho de 2012 novas exigências de proteção contra perdas.

A avaliação é do Royal Bank of Canadá (RBC), em estudo dirigido pelo economista Nick Chamie, alertando para impacto econômico significativo, contração nos mercados financeiros e fragilização das moedas de emergentes nos próximos meses.

RBC destaca exemplos recentes de bancos da zona do euro, britânicos e americanos reduzindo suas dívidas por meio de vendas de ativos, como portfólios de crédito, fundos de pensão, companhias de seguro, bancos de investimentos, em vários mercados emergentes.

A instituição acredita que essas ações vão compor o declínio geral de atividades de crédito que bancos da zona do euro têm nos emergentes, na tentativa de reduzir o tamanho do capital exigido para suas operações locais e assim ter mais capital para repatriar para a matriz europeia.

Recentes iniciativas do italiano UniCredit e do alemão Commerzbank para cortar créditos fora de seus principais mercados tendem a ser copiados pelo resto do sistema bancário da combalida zona do euro, estima o RBC.

"A retirada de uma parte considerável dos balanços de bancos da zona euro dos sistemas bancários e economias dos emergentes deve representar uma das cadeias de transmissão para tensões financeiras da zona do euro sobre ativos dos emergentes (câmbio, renda fixa, ações) e pesar sobre o crescimento econômico, particularmente na Europa do Leste, seguido pela América Latina e depois na Ásia", diz o RBC.

Para os emergentes, a vulnerabilidade maior está assim nos bancos europeus, que podem criar uma nova crise sistêmica.

Os bancos da zona do euro enfrentam extremo estresse financeiro com o valor em queda e para alcançarem o novo requerimento de capital de melhor qualidade de 9% ponderado pelos riscos.

O Morgan Stanley prevê que os bancos europeus vão reduzir coletivamente seus balanços em € 2 trilhões nos próximos 15 meses.

Mark Carney, o novo presidente do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), que reúne os principais reguladores, já apontou as atividades em "no core assets" (ativos não essenciais), como mercados emergentes e produtos em dólar americano, como foco para os bancos obterem mais capital.

Para o RBC, os mercados emergentes podem ser um alvo essencial, por oferecerem aos bancos europeus a oportunidade de vender ativos a preços relativamente atrativos para instituições locais.

A previsão é de venda de ativos sobretudo no Leste Europeu, onde os bancos da zona do euro chegam a controlar até 97% do mercado bancário, como ocorre na República Checa.

A desalavancagem dos bancos europeus pode explicar também um certo reforço do euro pela repatriação de fluxos de capital, dos emergentes de volta para a Europa. É um processo ainda em fase inicial e que pode continuar por vários meses, segundo RBC.

Levando em conta o mesmo estresse sofrido pelos bancos dos EUA na crise de 2008, os bancos da zona do euro poderão baixar a exposição em relação aos emergentes em pelo menos 20%, equivalente a US$ 522 bilhões.

"Essa estimativa dá uma magnitude da possível redução em empréstimos de bancos europeus nos emergentes nos próximos meses", diz o relatório do banco canadense.

A exposição de instituições europeias nos emergentes cresceu muito, e muito rápido, avalia o RBC. Entre 2005 e o segundo trimestre de 2011, as instituições europeias expandiram suas exposições nos emergentes para US$ 2,6 trilhões, 4,2 vezes maior do que seis anos atrás.

Esse enorme crescimento deixou os emergentes com riscos significativos num caso de desalavancagem, como agora, mais do que em 2008 e 2009 quando os bancos europeus emprestaram 3,4 vezes mais a esses países do que os bancos dos Estados Unidos.

Em relação ao PIB, os créditos do bancos da zona do euro são equivalentes a 12% da produção dos emergentes, variando de 4% na Ásia, 14% para América Latina e 33% na Europa Central e Oriental.

O plano de recapitalização dos maiores bancos europeus terá intensa supervisão por parte das autoridades para evitar que as instituições financeiras aumentem seu capital de melhor qualidade vendendo ativos de maneira excessiva e causando forte contração no crédito para a economia real - mas isso, na Europa.

As maiores instituições financeiras europeias terão prazo de nove meses, até 20 de junho de 2012, para aumentar a 9% seu capital de melhor qualidade - isso após contabilizar suas exposições a dívida soberana pelo valor de 30 de setembro. O "colchão temporário" deverá durar de um a três anos.