Título: Ciro cumpre agenda ao lado de Lula e ignora PPS
Autor: Maria Lúcia Delgado e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Política, p. A8

O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, viaja hoje para Manaus na comitiva presidencial a convite do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ignorando a decisão do diretório nacional do PPS de entregar os cargos que possui no governo. Lula participará da cerimônia de inauguração do Terminal de Logística de Carga no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. O presidente e o ministro almoçam com o governador Eduardo Braga (PPS), que negocia sua filiação ao PMDB. Ciro Gomes deve reunir seu grupo político ao longo da semana para decidir qual a melhor estratégia a adotar. Aliados dele, como a senadora Patrícia Saboya Gomes (PPS-CE), só deixam o partido numa decisão coletiva. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), reiterou ontem que desde sábado Ciro Gomes já não mais responde como ministro do PPS. "A aplicação da decisão do diretório nacional (de deixar o governo) é automática. É uma decisão do partido para ser respeitada. E não tenha nenhuma dúvida disso", afirmou Freire ao Valor. Irônico, Freire disse que o PT deveria abrir os braços e receber aqueles políticos e parlamentares do PPS que acham mais importante servir ao governo que respeitar decisões partidárias. "Eu quero que todos fiquem, mas respeito quem acha que a decisão não é de seu agrado", acrescentou o presidente do PPS. Em pé de guerra com o presidente da legenda, o líder do PPS na Câmara, Júlio Delgado (MG), realiza hoje reunião da bancada para discutir a decisão do diretório nacional. "Essa decisão do diretório é inócua. A vitória e o gosto amargo da derrota estão sendo servidos no mesmo cálice, pois é muito ruim para um partido em pleno crescimento", lamentou o parlamentar. A interlocutores, o líder disse que não descarta deixar o PPS, assim como outros parlamentares da legenda. No entanto, vão aguardar os próximos dias. Há uma tentativa em curso de convocar o Congresso Nacional do partido, para anular a decisão do diretório. Os adeptos de Freire rebatem as críticas dizendo que o PPS simplesmente está sendo honesto com Lula, avisando-o antecipadamente que o partido poderá não apoiar sua reeleição. Tanto é assim que o PPS mantém na ordem do dia a aproximação com o senador Cristóvam Buarque, insatisfeito petista que é apontado como potencial candidato à Presidência em 2006 pela legenda, ou pelo PDT. Convidado para se filiar ao PPS, o senador Cristovam Buarque (PT-DF), ex-ministro da Educação, disse ontem que não pretende deixar o PT agora, e fez críticas ao partido, ao governo e ao PPS, de quem discorda nas críticas à política econômica. "Não quero sair do Partido dos Trabalhadores, mas vejo o governo se afastando do PT e a sigla se afastando da luta pelo social. Hoje, o PT é mais o partido da economia do que do social, dos incluídos do que dos excluídos".