Título: Para Genoino, saída do PMDB do governo teve interferência tucana
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Política, p. A9

O presidente nacional do PT, José Genoino, avalia que há interferência do PSDB no processo de rompimento do PMDB e do PPS com a base que sustenta o governo Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso Nacional. "Vejo um movimento no PMDB, em que algumas áreas estão descontentes com o governo, uma ala que sempre defendeu aliança com o PSDB e há uma questão da relação com os governadores, que é uma relação de natureza institucional e não vai se alterar", disse Genoino, em entrevista ao site do PT. Neste final de semana, o PMDB e o PPS resolveram deixar a base do governo Lula. Genoino afirmou que o partido não vai interferir nas decisões dos partidos de sair do governo. "O PT não vai se intrometer em questões internas dos partidos. Assumimos uma posição de eqüidistância do PMDB e do PPS. Até agora não foram apresentadas divergências de conteúdo em relação aos rumos de nosso governo. O fato de ter candidato próprio em 2006 não é razão para sair do governo. O assunto PMDB e PPS não assume a prioridade na agenda do PT. Sobre a decisão de reforma ministerial, não é decisão do PT e sim do presidente Lula", disse ontem, durante a reunião da Executiva do PT, em São Paulo. Em entrevista ao portal do PT na internet, o dirigente petista reafirmou o afastamento do partido da discussão. "O governo não pode ficar envolvido numa questão que parece não ter fim, que é esta divisão no PMDB. Temos que avaliar qual é a posição dos que não querem sair do governo, trabalhar com estes companheiros e ver o que fazer, mas isto é decisão do governo". Genoino disse que o partido vai manter a política de aliança com parlamentares que apóiam o governo no Congresso. "O PT está fazendo um esforço e vamos consolidar nossa maioria política no Congresso Nacional. Se as pessoas saem do governo, isso não é um problema do PT." O petista exaltou a "lealdade" e "competência" do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PPS) no governo e disse que sua presença é "inestimável". "Temos respeito e admiração muito grande pelo trabalho do Ciro Gomes. Ele é fundamental pela sua dedicação e eficiência e sua importância no governo". Questionado sobre a presença dos ministros do PMDB, afirmou que "todos os ministros são fundamentais". Genoino reiterou que o PT quer coalizão política e está tentando manter a unidade parlamentar. O presidente Lula reclamou aos ministros a falta de unidade na votação de projetos no parlamento, como a votação da medida provisório que dá status de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles: "Também não fiquei satisfeito. Foram 28 deputados que votaram contra a MP, mesmo reconhecendo que é um assunto polêmico. Quando a gente é governo, tem assuntos que mesmo a gente discordando vota a favor por dois motivos: ou porque é fundamental ao governo ou por uma questão de solidariedade. É uma divergência política". O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), disse ontem, sobre a saída do PMDB e do PPS da base aliada do governo federal, que não torce "pela fragilização do governo federal e para que novas dificuldades surjam", . "Nós não podemos antecipar a agenda política", afirmou ele. "Quando eu vejo todos esses movimentos tendo como pano de fundo já o processo eleitoral de 2006, eu me preocupo." Segundo Aécio, a necessidade de articulação de maioria para cada uma das votações será um problema grave para o presidente Lula. "Isso é trabalhoso, mas o que me preocupa ainda mais é que nós não estabelecemos quais são as nossas prioridades", acrescentou. "As prioridades não do governo ou da oposição, mas as prioridades do país, para o Brasil no ano de 2005". Para o governador, as lideranças principais do Congresso Nacional deveriam nesse momento se debruçar na construção da agenda para 2005, que deve incluir temas como reforma tributária e parcerias público-privadas. "Aí sim, nós estaríamos prestando um grande serviço à população."