Título: China cede a pressão e vai segurar exportações têxteis
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Internacional, p. A11

A China anunciou que vai impor tarifas de exportação a algumas categorias de produtos têxteis, num gesto em direção dos EUA, da União Européia e de outros países que ameaçam restringir produtos baratos chineses a partir de 1º de janeiro, quando acaba o sistema de cotas no setor têxtil. O Ministério de Comércio chinês informou que vai introduzir oito medidas, incluindo adiar planos de expansão industrial, encorajar suas firmas a investir no exterior, estimular exportações de produtos de valor agregado e de marcas chinesas. "O governo chinês se opõe a protecionismo comercial, mas vai trabalhar duro para melhorar a comunicação e a cooperação com cada país pela melhora do comércio internacional", declarou um porta-voz. Pequim sinaliza assim que tende a moderar suas exportações, mas a questão é se isso vai atenuar o temor generalizado de invasão de produtos chineses com a liberalização do mercado global. "Não se deve sonhar, não poderemos parar os chineses, embora com isso pelo menos pode-se evitar que quebremos todos", disse Francesco Marchi, principal economista da Euratex, a associação dos produtores têxteis europeus. O governo chinês não deu detalhes sobre quais produtos serão submetidos a tarifas de exportação, nem o percentual, limitando-se a dizer que a taxa será baseada mais na quantidade que no valor. Mas estatísticas do Escritório Internacional de Têxteis e Confecções (ITCB, sigla em inglês) indicam que as exportações chinesas que mais aumentaram têm sido de produtos como sacolas de mão e de viagem, cortinas, toalhas de mesa e artigos de seda. Já a Euratex diz que a China está elevando exportações, com preços cada vez mais baixos, inclusive onde não se esperava. Exemplifica que em dois anos Pequim expandiu de 15% para 77% sua participação na importação total européia de jaquetas, ao mesmo tempo em que seus preços caíram de ? 18 para ? 6 por unidade. A Euratex admite que o gesto de Pequim pode limitar o recurso a salvaguardas contra seus produtos. Além disso, teme um "risco potencial" no futuro com o plano chinês de estimular a produção com valor agregado. "O que é bom agora pode se tornar ruim mais tarde para nós, pois com produção de valor agregado os chineses de todo modo vão continuar com preços mais baixos e mais competitivos", disse Marchi. A entidade européia quer que os chineses "redirecionem" parte de suas exportações, da UE e dos EUA para outros mercados. E que também melhorem o consumo em seu gigantesco mercado, que este ano, segundo a entidade, cresceu 25%. Para o ITCB, entidade que reúne 25 exportadores, incluindo China, Brasil e Índia, o anuncio de Pequim é um passo importante. "A China tomou medida de auto-controle para evitar mais fricções com os EUA e a UE", estima Dinora Diaz, economista da entidade. A perspectiva de controle chinês no mercado têxtil e de vestuários mundial alarma os EUA, a UE e o resto do mundo, que ameaçam com sobretaxas para proteger suas indústrias. Os EUA importaram US$ 11,6 bilhões em têxteis e vestuário chineses em 2003, e a UE, um pouco mais, US$ 17,6 bilhões. Marchi calcula que em todo caso os chineses aumentarão suas exportações em volume entre 15% e 20% para os 25 países da UE em 2005. Nos EUA, o American Textile Manufacturers Institute prevê que a fatia chinesa nas importações do país subirá para 71% até 2006, contra 16% do total no ano passado. Mas todos essas cifras são políticas e visam forçar governos a adotar medidas duras contra Pequim. Segundo o "Financial Times", as medidas podem servir ainda para amortecer o impacto do fim das cotas dentro da própria China, onde algumas estatais tentam competir com empresas privadas mais fortes. O jornal britânico diz que a China, apesar da imagem de invencibilidade na indústria têxtil, vive um clima de crise no setor, no rastro de reformas e privatização, com perda de empregos na ultima década. Editorial do "Diário do Povo", jornal oficial do Partido Comunista, disse que a industria local sofreu com a alta dos preços de matérias-primas, baixa competitividade e crescente protecionismo.