Título: Resultado abre espaço para novas medidas, se governo quiser crescer mais
Autor: Machado,Tainara
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2011, Brasil, p. A3

A estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre trouxe uma surpresa: a fraca expansão da demanda, com recuo do consumo das famílias e do governo, além dos investimentos. Essa combinação criou, entre alguns economistas, a expectativa de que o governo possa agir para estimular o consumo, por meio do contínuo desmanche das medidas macroprudenciais adotadas no fim de dezembro de 2010 e novos incentivos, como a redução de impostos para outros setores, como o automobilístico. O resultado também reforçou a percepção de que a Selic será reduzida gradualmente, até atingir um dígito em 2012, com projeções concentradas entre 9,5% e 9% ao ano - hoje, está em 11%.

No entanto, um PIB muito acima de 3% em 2012 parece difícil, mesmo se o governo tiver uma atuação agressiva para impulsionar a demanda. O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, ilustra a dificuldade para um crescimento mais expressivo no ano que vem. Se crescer a uma média trimestral de 1,1%, sempre na comparação com o trimestre anterior, o PIB terá expansão de 3,2% - neste ano, em que o PIB deve avançar 2,8%, segundo a LCA, a média deve ficar em 0,4%. Um PIB de 4% em 2012 exigiria uma alta de 1,4% por trimestre e os 5% desejados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, uma média de 1,8%.

A economista Fernanda Consorte, do Santander, já esperava a desaceleração e até projetava recuo de 0,2% no terceiro trimestre, na comparação com o segundo, já com ajuste sazonal. O que a surpreendeu foi a perda de fôlego não apenas na indústria, mas também em serviços, que teve queda de 0,3%. Ela ressalta o papel do comércio para esse recuo, com retração de 1%. "É possível que novas medidas sejam adotadas para setores como veículos e material de construção, que pela Pesquisa Mensal do Comércio já haviam mostrado desaceleração."

O resultado do terceiro trimestre também aumentou a probabilidade de outras ações por parte do governo, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. No entanto, ele argumenta que desta vez a ação deveria ser calibrada de modo a beneficiar mais setores da indústria. Na semana passada, a Fazenda desonerou alguns itens da linha branca por meio da redução ou isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Para Gonçalves, se decidir agir, o governo não deve fugir da linha já adotada, mexendo principalmente em tributação. "Se olharmos em termos de setores que empregam mais gente, os estímulos poderiam contemplar o têxtil, por exemplo."

O Banco Central, por sua vez, pode atuar em duas frentes: uma delas é continuar a desmontar as medidas macroprudenciais adotadas no fim de 2010, opina Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria. A outra é continuar a cortar a taxa Selic, como o BC faz desde agosto deste ano. A Tendências projeta mais três reduções de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, que cairia dos atuais 11% ao ano para 9,5% em 2012.

Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra, não torce para que o governo adote mais medidas de estímulo à economia e continue a trajetória de maior rigor fiscal, abrindo assim espaço para a política monetária. "Espero que não [adote outras ações], porque acho que o mais interessante seria que houvesse oportunidade para a taxa de juros cair mais", afirma Kawall, que projeta redução gradual da Selic para 9,5% em 2012.

Embora a maioria dos economistas consultados pelo Valor trabalhe com a Selic a 9,5% ao ano em 2012, Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, projeta que o Banco Central estique o ciclo de aperto monetário até maio do próximo ano, mas sempre mantendo o ritmo de corte de 0,5 ponto percentual por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Isso, porque, avalia, "só se mexe em juro de maneira brusca quando o caso exige, mas agora não adianta. O estímulo chegou tarde e cortes maiores gerariam mais incerteza."

Na outra ponta, Alexandre Andrade, economista da Votorantim Corretora, aguarda apenas mais um corte da Selic, para 10,5%. Ele não defende novas medidas de estímulo ao consumo, sob o risco de superaquecer a economia. Isso porque, em sua opinião, o consumo das famílias poderá dar sinais de melhora já no quarto trimestre, crescendo até 0,3% sobre o trimestre anterior, embora uma expansão mais consistente seja esperada apenas no próximo ano. (Colaboraram Sergio Lamucci e Francine De Lorenzo, de São Paulo)