Título: Volume de crédito rural cresce 45% nesta safra
Autor: Gleise de Castro
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Especial Agronegócios, p. F2

Embora ainda considerados insuficientes pelos agricultores, os recursos do crédito rural disponíveis para custeio, investimento e comercialização da safra 2004/2005 tiveram uma expansão considerável. Aumentaram 45,3% em relação à safra passada, para R$ 39,45 bilhões. Desse total, os valores liberados a juros controlados - de 8,75% ao ano em sua maioria - passaram de R$ 16,4 bilhões para R$ 17,7 bilhões, o que dá um crescimento de 7,9%. Os recursos liberados a juros livres tiveram maior avanço, de 121%, para R$ 11,05 bilhões. Os chamados recursos controlados provêm de 25% dos depósitos à vista dos bancos privados e públicos. Essa diferença de crescimento entre os valores controlados e os disponíveis a juros livres deve-se ao aumento da demanda por crédito nesta safra, como explica Nelson Costa, superintendente adjunto da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). A combinação de três fatores está levando os agricultores a buscar mais crédito nas agências bancárias, a começar pelo aumento estimado de 20% dos custos de produção puxado pela alta dos combustíveis, matéria-prima dos fertilizantes e outros agroquímicos. Além disso, devido à queda do preço da soja no mercado internacional, os sojicultores ainda não venderam todo o produto colhido na safra passada. Costa calcula que restem 25% da safra passada estocados com os produtores. Para completar, também não houve nesta safra a venda antecipada de soja, o carro-chefe do agronegócio brasileiro. A venda antecipada consiste em trocar, na fase de plantio, o produto que vai ser colhido por fertilizantes e defensivos agrícolas. "Como há um valor limitado de recursos a juros controlados, o banco, para atender a um número maior de produtores, acaba destinando mais crédito a taxa de juros livres", diz Costa. Para Ramon Belisario, gerente técnico da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), é relativo dizer que os agricultores brasileiros estão capitalizados por causa das excelentes safras e vendas para o mercado externo dos últimos anos. "As pessoas pensam que o agricultor se capitaliza quando há uma boa safra. Mas se esquecem de que existe um passado", afirma. Esse passado, segundo ele, é composto por compromissos assumidos há quatro anos, quando o governo fez uma ampla renegociação das dívidas do setor, e por novos investimentos, o que faz com que o endividamento do setor hoje seja elevado.

Já na visão de Ademiro Vian, assessor técnico da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o passado da agricultura brasileira tem matizes não tão cinzentos. "A área plantada e a produtividade de grãos vêm aumentando durante décadas e é preciso olhar pelo retrovisor para lembrar que fazem parte desse processo 40 anos de crédito rural, a taxas compatíveis com a atividade", afirma. "Por conta da mudança do perfil de endividamento, do crescimento cultural do agricultor, que está mais informado, mais tecnificado, mais informatizado e plantando com melhores sementes, a agricultura brasileira avançou muito. Por trás disso existe um combustível chamado crédito rural, que fez com que a máquina engrenasse e andasse." Quanto à participação dos bancos privados no crédito rural, os números são expressivos, embora quase sempre ofuscados pelos do Banco do Brasil. Em uma década, entre as safras 1995/1996 e 2004/2005, o desembolso dos bancos privados para crédito rural saltaram de R$ 1,43 bilhão para R$ 21 bilhões, segundo a Frebaban. O dos bancos públicos aumentou de R$ 5,33 bilhões para R$ 25,5 bilhões no período. Só na atual safra, até 30 de setembro, havia na carteira de crédito rural de todos os bancos um saldo devedor, incluindo juros, de R$ 56,3 bilhões. Tirando desse total os recursos do Banco do Brasil, o resultado é um volume de financiamento da ordem de R$ 30,4 bilhões, dos quais R$ 13 bilhões a juros livres. Os bancos cooperativos, por meio das cooperativas de crédito, também são fonte importante dos recursos do crédito rural. Segundo dados da OCB, os valores próprios desses bancos para aplicar na agricultura à taxa de 8,75% saltaram de R$ 80 milhões na safra 1995/1996 para R$ 740 milhões no atual ano agrícola. São recursos equalizados pelo Tesouro Nacional (a diferença entre a taxa de empréstimo, de 8,75%, e a taxa de captação é coberta pelo Tesouro). "A participação dos bancos cooperativos no crédito rural vem crescendo, porque as cooperativas têm grande capilaridade e estão muito próximas dos agricultores", diz Ramon Belisario, da OCB. São 2.300 postos de atendimento que prestam serviços a 1,8 milhão de produtores. Outro dado importante é que 83% dos produtores associados às cooperativas de crédito são pequenos proprietários, com até 50 hectares, e arrendatários. Também a compra de insumos, como adubos, costuma ser financiada pelos fabricantes, para pagamento em prazos que variam de 30 até 180 dias. "A indústria de fertilizantes gostaria que houvesse mais crédito oficial disponível e que ele fluísse nos momentos adequados dentro da sazonalidade do setor para que o agricultor possa plantar com mais tecnologia", diz Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA). Os fabricantes de fertilizantes devem fechar 2004 com faturamento de R$ 15 bilhões, crescimento de 7% a 8% em relação ao ano passado, conforme a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Em volume, as vendas devem ficar nos mesmos níveis de 2003, quando foram vendidas 22,36 milhões de toneladas.