Título: Vendas de fabricantes de máquinas agrícolas atingiram US$ 7,5 bilhões
Autor: Mauro Cezar Pereira
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Especial Agronegócios, p. F4

O desempenho em 2004 foi considerado excelente na venda de máquinas agrícolas, especialmente para o mercado externo. Faltando dezembro para fechar o ano, os valores ultrapassam a casa dos US$ 7,5 bilhões, sendo que os últimos meses - outubro e novembro - apresentaram dois dos três melhores resultados do ano. Mas para 2005 as perspectivas não são as mesmas. A queda do dólar, que tanto preocupa os exportadores, não dificulta apenas a venda de grãos, mas também de maquinário agrícola. Enquanto comemora os resultados de 2004, o setor se porta de forma não tão otimista para 2005, ciente de que, além do câmbio da moeda americana, repetir resultados como os do ano que se encerra é algo quase impossível. Contabilizados apenas valores das vendas ao exterior, a variação na comparação com igual período de 2003 supera os 50%. Em unidades comercializadas o salto é de 47%, com mais de 28 mil unidades vendidas ao mercado externo nos 11 últimos meses. Para se ter uma idéia, as exportações de automóveis cresceram 18,7% de janeiro a novembro, índice que não chega à metade do resultado com tratores e colheitadeiras. Só no primeiro semestre, a Case New Holland, instalada no Paraná, vendeu para outros países um número de máquinas 64% superior ao que exportou nos seis primeiros meses de 2003.

Mesmo o mercado interno não foi mal, mantendo-se instável em relação a 2003. "Em 2004 o crescimento da indústria automotiva foi apoiado no sucesso do campo", avalia Rogelio Golfarb, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Golfarb argumenta que a queda nas vendas em determinados meses "é natural devido à sazonalidade do setor". O presidente da Anfavea atribui o crescimento das exportações a acordos comerciais recentes. Além disso, países sul-americanos como Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela compram máquinas feitas em fábricas brasileiras. A reação do setor agrícola desses vizinhos alavancou as vendas de empresas situadas no Brasil. "A Venezuela cresceu muito em 2004, mas os altos e baixos desses mercados são significativos, dependentes de programas específicos de governo que nem sempre se repetem a cada ano", ressalta Fábio Piltcher, diretor de marketing da AGCO, fabricante dos tratores Massey Fergusson. A empresa prevê para este ano receitas de US$ 700 milhões, 16% a mais do que em 2003. A Agrale avalia que os negócios em 2004 foram excepcionais. "Crescemos 75% de janeiro a novembro, enquanto o mercado cresceu 2%", compara o diretor de vendas e marketing Flávio Crosa. A companhia pegou uma boa "carona" nos resultados gerados por milho e, principalmente, soja. "Isso ficou claro, embora a Agrale seja mais focada em caminhões de menor porte, com até 6,7 toneladas de capacidade", frisa. Para 2005, a estimativa da Anfavea é de equilíbrio, sem o mesmos volumes de 2004. "Esperamos ficar como neste ano", diz Rogelio Golfarb, que prevê, no mercado interno, queda de 10% nas vendas. Ele acrescenta que com o dólar desvalorizado, o poder de compra da agricultura cai muito. "Isso afeta diretamente o negócio de máquinas agrícolas". A Anfavea tem expectativa de que ocorram boas safras, mas com a soja, por exemplo, terá preços mais baixos devido à cotação do dólar, os negócios deverão ser diretamente atingidos. "Estamos mais reticentes para o ano novo, embora a safra 2005 vá criar necessidades de muitos se equiparem", afirma Flávio Crosa, da Agrale. O crescimento das exportações da Massey Fergusson a partir do Brasil bate perto dos 60%. "De todos os tratores que o Brasil exportou neste ano, 52% saíram da nossa fábrica em Canoas (RS)", festeja Fábio Piltcher. Tais números motivaram a transferência para o país da área de engenharia, antes situada na Dinamarca, conseqüência do status da unidade brasileira, hoje uma das mais importantes plataformas de exportação da companhia. Os investimentos da AGCO projetados para 2005 giram em torno de US$ 15 milhões. O objetivo: saltar de 2,5 mil para 4 mil unidades a produção de colheitadeiras, com a de tratores indo dos atuais 25 mil para 30 mil peças anuais. Tudo com foco no mercado internacional. A emepresa exporta para quase 90 países. Ex-Valmet Tratores, a Valtra do Brasil vem superando, desde o começo de 2004, as exportações registradas no ano anterior. De origem finlandesa, a multinacional ampliou as vendas externas em 18% só nos quatro primeiros meses na comparação com o mesmo período do ano passado. Já a CNH, no país desde 2000, é a fabricante de máquinas agrícolas da Fiat, por meio das marcas New Holland, Case, Case IH e Fiat Allis. Em Curitiba (PR) são produzidos tratores e colheitadeiras, enquanto na unidade fabril de Contagem (MG), faz-se máquinas de construção, e em Piracicaba (SP) plantadeiras e colheitadeiras especiais. O faturamento no Brasil supera a casa dos R$ 2 bilhões.