Título: Carnes são o segundo item da pauta de exportações
Autor: Anamárcia Vainsencher
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Especial Agronegócios, p. F6

"Não poderia ter sido melhor. Em 2004, os preços subiram, os volumes aumentaram. Nossa perspectiva é ter um 2005 igual", diz, animado, o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Camardelli. É o que mostra, também, previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) que, em relatório recente, projeta, para 2005, exportações recordes de carnes (bovina, suína, de frango e de peru), que devem atingir 17,6 milhões de toneladas, 5,4% a mais do que em 2004. O Brasil, segundo o USDA, "deve manter a posição de maior exportador de carne bovina e de frango, pelo segundo ano consecutivo". Mas o relato deixa de mencionar que, do mesmo modo, merecem destaques as exportações brasileiras de carnes suína (quarto lugar, após União Européia, EUA e Canadá) e de peru (terceiro, com 128 mil toneladas, logo depois dos EUA, com 206 mil toneladas e União Européia, com 170 mil). De acordo com dados preliminares, de janeiro a novembro, a comercialização externa de carnes gerou US$ 5,4 bilhões em divisas, 50% acima dos US$ 3,6 bilhões de todo o ano de 2003. Segundo o Ministério da Agricultura, entre os produtos que tiveram maiores aumentos de valor estão a carne bovina in natura (74,3%) e frango in natura (45%).

As exportações de carne bovina in natura e industrializada continuaram apresentando forte crescimento (45,7%) e (28,5%), respectivamente. O incremento resultou do aumento de 59% na quantidade exportada com uma redução de 8,3% nos preços, no caso da carne bovina in natura e um aumento de volume de 23,7% somado a uma variação de 3,9% nos preços, no caso da carne bovina industrializada. Os valores exportados de frango in natura cresceram 10,3% (de US$ 177 milhões para US$ 196 milhões), com os preços mais elevados em 5,8% e aumento de 4,2% no quantum exportado. As exportações de carne suína também apresentaram crescimento, com uma variação de 25%, devido a um aumento nos preços (35,4%), uma vez que a quantidade exportada diminuiu 7,6%. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) assinala, contudo, que o Brasil aumentou a participação no mercado internacional porque concorrentes tiveram problemas: os Estados Unidos registraram casos de doença da " vaca louca " e a Austrália enfrentou problemas climáticos. De acordo com dados oficiais estimados, em 2004, o rebanho bovino do país é de pouco mais de 191 milhões de cabeças (4% maior do que em 2003), das quais foram abatidas quase 40 milhões (+6%), resultando numa produção de 8 milhões de toneladas em carcaças equivalentes (+4%). Quanto ao consumo interno per capita de carne bovina, tem se mantido ao redor de 36 quilos (em carcaças equivalentes) nos últimos três anos, ou, por volta de 6 milhões de toneladas (em carcaças equivalentes) desde 2000. Isso deixa claro que o pólo dinâmico da pecuária são as exportações. O mesmo vale para a avicultura e suinocultura.

Afinal, as carnes ocupam honroso segundo lugar na pauta de exportações do agronegócio, atrás, apenas, do complexo soja. É por tudo isso que o diretor de relações institucionais da Perdigão, Ricardo Menezes, espera a continuidade do trabalho do trio de "mascates" - os ministros Luiz Fernando Furlan, da Indústria e Comércio, Roberto Rodrigues, da Agricultura e Celso Amorim, das Relações Exteriores - no desbravamento e consolidação de mercados internacionais para as carnes made in Brazil. Os resultados da empresa vêm sendo fortemente impulsionados pelas exportações. De janeiro a setembro, suas vendas externas aumentaram mais de 49%, chegando a mais de R$ 2 bilhões, o equivalente a cerca de 57% da receita líquida de R$ 3,5 bilhões. Da mesma forma, as exportações contribuíram para que o lucro líquido acumulado no período atingisse R$ 211,3 milhões, o que representou incremento de 311% frente a 2003. No terceiro trimestre, os volumes exportados aumentaram 14,8% e as receitas 31%, ante o mesmo período do ano passado. A Perdigão prevê o fechamento de 2004 com um crescimento em torno de 20% nos volumes de carnes exportadas. No mercado interno, desde agosto, relata Menezes, o consumo vem melhorando gradativamente, acompanhando o aumento do emprego e da massa salarial. "Não estamos assistindo a qualquer explosão, mas a retomada de consumo, sobretudo de produtos mais populares. Estamos otimistas, teremos um bom final de ano, bastante favorável às aves", comenta o executivo. Na União Brasileira de Avicultura (UBA), o balanço do ano e as perspectivas para 2005 vão na mesma direção, segundo análise do secretário executivo Clovis Pupperi. Até outubro, a produção de frangos aumentou 9%, para 8,5 milhões de toneladas de carne, das quais 6,1 milhões foram comercializadas no mercado interno (+3%), enquanto as exportações avançaram 25%, para 204 milhões de toneladas que se destinaram a 132 diferentes mercados. "Em 2004, o mercado doméstico acompanhou o crescimento demográfico", diz Pupperi. Nesse aspecto, foi um período ruim para a avicultura, que se ressentiu com a perda de renda do consumidor. "Quando isso acontece, o brasileiro não come melhor, ao contrário, gasta pouco em alimentos", observa. Por tudo isso, foi o crescimento das exportações que sustentou o setor que, contou, também, com a saída dos exportadores asiáticos do mercado, por causa da gripe aviária. Como essa retirada é circunstancial, a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef) também se empenha na busca de novos mercados na África e Leste da Europa. "Preços, nós temos, somos competitivos", garante Pupperi.