Título: Com super produção de soja, há atraso na comercialização
Autor: Rosangela Capozoli
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Especial Agronegócios, p. F7

A colheita recorde norte-americana e as estimativas de super safra no Brasil e Argentina estão provocando um atraso na comercialização da soja. A prova disso é a forte queda nos registros de embarques brasileiros do grão (2005/2006), conforme o ano-safra adotado pela indústria - fevereiro de 2005 a janeiro de 2006. As 594 mil toneladas registradas até 31 de outubro ficaram 84,88% abaixo do volume verificado em igual período do ano passado, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) computados pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Os registros para o ano comercial correspondem a 2,6% de todo o embarque projetado pela Abiove para o período, de 22,5 milhões de toneladas. O atraso reflete as condições adversas de preços e custos de produção. A diminuição dos registros não se verifica apenas para os grãos, mas em toda o complexo soja, incluindo farelo e óleo. Os contratos de farelo, por exemplo, sofreram redução de 84,59% em relação à idêntica data de 2003, ou seja, até 31 de outubro foram contabilizados apenas 183 mil toneladas, o equivalente a 1,1% do previsto para o ano, de 16,2 milhões de toneladas. O óleo para embarque 2005/2006 atingiu 25 mil toneladas, índice 83,76% abaixo do registrado na mesma data do ano passado, o que significa apenas 0,8% do total previsto para o ano. De acordo com a associação, o grande volume de registros antecipados nas três últimas temporadas gerou a "bolha" de preços altos e a forte demanda chinesa no período, o que não ocorre agora. A Abiove reforça que o excesso de grãos ofertados no mundo leva o mercado a trabalhar mais no spot, evitando antecipação de registros. Apesar de um acréscimo de 8,85% no consumo mundial para 2004/2005 ainda sobram grãos no mercado: o excesso na produção fica na casa das 22,8 milhões de toneladas. A grande oferta do produto, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), atingiria 61,4 milhões de toneladas. Na revisão do USDA, a safra norte-americana de 2004/2005 apresentou aumento de 1,4% de produção alcançando 85,74 milhões de toneladas, diante de 64,5 milhões de toneladas de grãos brasileiros e 39 milhões de toneladas de soja da Argentina. A abundância do grão no mercado mundial mexeu com a receita cambial do complexo soja no Brasil que minguou e, pela primeira vez, a projeção ficou abaixo dos US$ 9 bilhões. Pelos cálculos da Abiove, as exportações deverão render US$ 8,976 bilhões no próximo ano, ante os US$ 10,091 bilhões estimados para 2004. A redução dos preços médios de exportação do complexo soja no ano que vem, segundo a Abiove, é de cerca de 25% para o grão e o farelo, e de 12% para o óleo, em relação às médias deste ano. O ajuste é resultado da revisão de volume de preços do grão e do óleo. Diante de um mercado super ofertado, a associação reviu para baixo os embarques, que deverão somar 19,2 milhões de toneladas no ano. Os números de farelo ficaram inalterados, com volume de 14,4 milhões de toneladas, enquanto a previsão de exportação de óleo foi reduzida em 50 mil toneladas, para 2,55 milhões. Análise da Agroconsult demonstra que a média do contrato de maio do próximo ano deverá se estabilizar no nível de US$ 5,50 o bushel. O relatório ressalta ainda que a cotação da soja no cenário mundial estará atrelada a dois fatores: incerteza sobre o nível de dispersão da ferrugem no plantio americano e, em segundo lugar, se haverá controle da praga. O vice-presidente da Caramuru Alimentos, César Borges de Souza, não arrisca fazer previsões para 2005. "Ainda é uma incógnita", comenta. Os resultados deste ano da sua companhia, no entanto, não deixam nada a desejar. A empresa fecha o ano com uma receita de R$ 1,6 bilhão, ante R$ 1,5 bilhão obtidos em 2003. "A forte demanda do mercado externo no primeiro semestre nos permitiu aumentar a participação na receita", diz. A ADM, companhia multinacional, exportou R$ 3,8 bilhões em produtos agrícolas (soja em grão, farelo e óleo de soja, milho) em 2004 e a expectativa para 2005 é aumentar em 15% o volume de exportações de soja em grãos e farelo. O superávit da balança comercial do agronegócio somou US$ 29,03 bilhões nos primeiros dez meses deste ano sobre o mesmo período anterior, registrando alta de 34,7%, resultado recorde. As exportações de produtos agrícolas somaram US$ 33,054 bilhões, valor inédito. Comparado com os mesmos meses de 2003 houve expansão de 29,5%. O agronegócio foi responsável por 41,78% das vendas externas do país em 2004, que totalizaram US$ 79,121 bilhões. A análise por segmento mostra que as vendas externas do complexo soja renderam US$ 9,299 bilhões nos primeiros dez meses do ano, 29,1% acima dos US$ 7,295 bilhões de 2003.