Título: Nova eleição de central sindical já é contestada
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Fonte: Valor Econômico, 04/11/2011, Brasil, p. A3

A Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) realizará hoje, em São Paulo, uma eleição que já nasce contestada na Justiça para renovar a diretoria da entidade, que representa 386 sindicatos e é a menor entre as seis centrais sindicais reconhecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O grupo do presidente Antonio Neto, que está afastado por decisão judicial, promete boicotar a votação, organizada pelo vice-presidente Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira.

Os dois eram aliados até a realização de congresso em julho para eleger a nova diretoria. Bira, do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR 8), que participou da luta armada contra o regime militar e fundou recentemente o Partido Pátria Livre (PPL), ofereceu apoio a Neto em troca da manutenção dos cargos que tinha na diretoria. O então presidente foi contra por querer reduzir o espaço do MR 8 e incorporar no comando os sindicatos filiados à central desde 2007, ano da eleição anterior.

Rachados, cada um realizou o próprio congresso em julho e discutem na Justiça desde então para definir quem foi eleito. O juiz Luís Mário Galbetti, da 33ª Vara Civil de São Paulo, anulou a eleição e decidiu que Neto deveria realizar uma nova votação em 30 dias. O sindicalista não cumpriu o prazo, alegando que ainda havia recursos a serem analisados, e foi destituído por Galbetti. O afastamento foi derrubado por liminar no sábado, mas o mesmo juiz decidiu revogar a medida ontem e manter a eleição.

"Decidimos não ir amanhã [hoje]. Eles [MR 8] não têm legitimidade, não têm base sindical. Com esse povo, realmente não queremos estar juntos", afirmou Neto, que recorre para impedir a eleição. Bira se defende dizendo que o fato de não ser filiado a mais nenhum sindicato não era problema antes e que o adversário fugiu da eleição. "O Neto não queria o debate, mas agora vamos cumprir a decisão judicial e realizar o congresso", disse o presidente interino.

A disputa pode resultar na perda do repasse de imposto sindical para a CGTB, que resultou em R$ 5 milhões para o caixa da entidade em 2010. As centrais recebem 10% do tributo, que corresponde ao salário de um dia por ano do trabalhador, desde que representem mais de 7% dos trabalhadores sindicalizados do país - a CGTB tem 7,02%.

Neto, que representa um dos principais sindicatos da CGTB, o do Processamento de Dados de São Paulo (Sindpd), acredita que 70% dos sindicatos filiados à central estão do seu lado e não descarta "tomar outros caminhos" se a nova diretoria for controlada pelo MR 8, mas desconversa sobre a possível saída. "Essa decisão é para outro momento", disse.