Título: País vai surpreender em 2005, diz Lula
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2004, Brasil, p. A3

Em uma seqüência de discursos marcados por improvisos e euforia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que quem não esperava o crescimento da economia brasileira neste ano se surpreenderá ainda mais em 2005. Ele afirmou que não está fazendo "nenhum milagre", mas apenas "dando uma oportunidade" ao país e escrevendo "o começo de uma obra que ainda vai dar muito o que falar". "Pode ficar certo que quem ficou surpreso com o crescimento econômico de 2004 vai ficar ainda mais surpreso com o crescimento econômico de 2005", disse Lula, em visita a Manaus. Para ele, o governo plantou as bases de uma expansão bem sedimentada. "São apenas 23 meses e meio de governo, ainda faltam 15 dias para completarmos dois anos. Mas nós plantamos a base, a semente é boa. O broto que está nascendo dessa semente dá sinais de uma árvore muito vigorosa". Na inauguração de um novo terminal de cargas no aeroporto internacional Eduardo Gomes, Lula afirmou que a Zona Franca de Manaus é um símbolo do desenvolvimento na região amazônica e só quem não conhece o pólo industrial pode condená-lo. Ele criticou os políticos que "não conseguem pensar além da sua própria eleição" e aqueles que "não enxergam além do eixo Rio-São Paulo". Lula previu que, assim como o século XIX foi da Europa e o século XX foi o que enriqueceu os Estados Unidos, o novo século marcará a "nova geografia comercial do mundo" com a ascensão do Brasil e países como China, Índia e África do Sul. Esse novo desenho fará com que o Brasil "seja tratado com todo o respeito que merece". Mais tarde, em aparentes críticas veladas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula pediu que as pessoas se lembrem das condições econômicas em que iniciou o seu mandato. O balanço de contas correntes estava negativo em US$ 32 bilhões e tornou-se positivo em US$ 10 bilhões, o déficit comercial vivido após a implantação do real virou superávit e as exportações atingirão US$ 94 bilhões em 2004. "Estou com o champanhe guardado para abrir com o companheiro [ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando] Furlan no dia em que o Brasil chegar a US$ 100 bilhões de exportações", brincou, durante inauguração de um depósito industrial da Honda. Reassumindo o tom mais sério, o presidente afirmou que os líderes de um país precisam apresentar otimismo e não devem lamentar os problemas. "Se um empresário de qualquer parte do mundo vem aqui ao Brasil para saber das condições e encontra um presidente resmungão, chorão, lamentando que as coisas não dão certo, por que vai investir?", questionou, dirigindo-se ao presidente da Honda. "Temos que levantar a cabeça e acreditar que podemos construir uma nação forte". Sempre reclamando muito do calor, que durante a manhã superou os 30 graus, Lula procurou várias vezes seus assessores para pedir lenços e não cansou de fazer piadas com o clima da cidade. No terminal de cargas da Infraero, flagrou o assessor especial da Presidência da República, César Alvarez, abanando-se e não perdeu a oportunidade: se tivesse trazido 500 leques para vender em Manaus, seria um "negócio imbatível". Lula esteve acompanhado de quatro ministros - Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Ciro Gomes (Integração Nacional), Alfredo Nascimento (Transportes) e Agnelo Queiroz (Esportes) -, além do presidente da Infraero, Carlos Wilson. A estatal, responsável pela administração dos aeroportos do país, investiu R$ 23,6 milhões na construção do terceiro terminal de cargas de Manaus e na reforma do segundo já existente. Com a obra, a capacidade do complexo aumenta em quatro vezes, passando para 12 mil toneladas por mês. A expansão era considerada necessária por causa do aumento da demanda dos empresários na Zona Franca de Manaus por transporte aéreo de cargas.