Título: BNDES vai manter exigências para empresas estrangeiras, diz Mantega
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2004, Brasil, p. A5

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não vai alterar, ao menos por enquanto, as regras de concessão de empréstimos a empresas estrangeiras, criadas na administração Carlos Lessa, que exigem garantias reais da matriz para financiar a filial brasileira. O atual presidente do banco, Guido Mantega, que substituiu Lessa, disse ontem que "no momento não há qualquer perspectiva de mudança quanto às garantias" e que se alguma alteração vier a ser feita ela ocorrerá com o cuidado de evitar que elas fiquem enfraquecidas. De acordo com versão de membros da gestão Lessa, pressões das empresas multinacionais contra as exigências de garantias que elas consideravam exageradas teriam contribuído para engrossar o caldo das razões que levaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a mudar o comando do banco. Mantega disse ignorar que tenha havido pressões das multinacionais e afirmou que não houve nenhuma correlação entre as garantias e a troca de diretoria. "O banco continuará exigindo garantias sólidas para que não aconteça o que aconteceu no passado, quando financiou a descoberto e ficou com patrimônios duvidosos a serem administrados por conta de imprudência do governo Fernando Henrique Cardoso na gestão do BNDES", disse Mantega. Segundo ele, sua gestão ainda não teve tempo de avaliar "em profundidade" o teor exato das garantias exigidas pela equipe de Lessa e ressaltou que se houver alguma alteração nas normas ela será fruto dessa "análise mais profunda". Mantega ressaltou que as exigências "estão em vigor e estão mantidas". Os principais problemas vividos pela administração Lessa para a execução de garantias de crédito foram em empréstimos concedidos à multinacional norte-americana do setor energético AES, controladora da Eletropaulo, entre outras. Diante de uma inadimplência de US$ 1,2 bilhão o banco percebeu que seria muito difícil acionar a matriz do grupo porque entre ela e a filial brasileira contratante dos empréstimos havia um emaranhado de empresas localizadas em paraísos fiscais. Nos empréstimos feitos pelo BNDES para que a AES comprasse a Eletropaulo, as principais garantias eram as ações da própria distribuidora de energia elétrica paulista. Em entrevista concedida logo após assinar com a Caixa Econômica Federal (CEF) contrato pelo qual a Caixa passa a ser operadora do cartão BNDES para empréstimos a pequenas e médias empresas, Mantega disse que sua gestão ainda não tem um diagnóstico sobre o que precisa ser feito para acelerar a concessão de empréstimos pelo banco estatal. A insatisfação do governo com o ritmo das liberações de financiamentos pelo BNDES foi outra das razões extra-oficiais para a queda da diretoria passada. O BNDES não conseguirá executar em 2004 seu orçamento de R$ 47,3 bilhões. Segundo Mantega, as liberações do banco deverão fechar o ano entre R$ 38 bilhões e R$ 40 bilhões. Outra pendência que se arrasta desde a gestão passada e que aparentemente não se resolverá neste ano é o saneamento financeiro da Varig e do setor elétrico. O BNDES tem papel decisivo no processo, já que será o órgão financiador que dará sustentação à saída para a crise da empresa que vem sendo negociada pelo Ministério da Defesa e pelo Gabinete Civil da Presidência da República. Mantega disse não saber qual o limite de sobrevivência da Varig na atual situação e acrescentou que o governo "está colocando todo empenho" para encontrar uma saída. Segundo ele, o BNDES só pode se manifestar quando