Título: PIB fraco reflete o Brasil real
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 03/09/2010, Economia, p. 12

IBGE mostra hoje que a economia brasileira avançou muito pouco no segundo trimestre. Analistas apostam em crescimento entre 0,4% e 0,9% na comparação com os três primeiros meses do ano, pondo fim à euforia que dominou governo e mercado

Quando divulgar hoje o resultado do Produto Interno (PIB) do país referente ao segundo trimestre do ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) porá um ponto final na euforia que dominou o governo e o mercado nos últimos meses. Simplesmente, veremos o Brasil real, que não tem condições de sustentar um crescimento como o verificado nos primeiros três meses do ano, disse o economistachefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal.

Se as contas dos analistas estiveremcorretas, o avanço do PIB ficou entre 0,4% e 0,9% na comparação com os 2,7% do primeiro trimestre. Não tem jeito. Daqui por diante, veremos resultados mais modestos do PIB, girando mais próximos de 1%, afirmou o economista-chefe do BancoWestLB,Roberto Padovani.

Comisso,oBrasil caminhará dentro do seu potencial de crescimento sem gerar inflação. Eu acredito que esse potencial esteja entre 4%e 4,5%, acrescentou.

Mas, apesar dos númerosmodestos do PIB acumulado entre abril e junho, o economista-chefe do Banco BES Investimento, Jankiel Santos, acredita que não há motivo para desânimo, uma vez que o avanço da atividade se deu basicamente pela força da economia domésticaou seja, o consumo das famílias e os investimentos.

Naminha avaliação, veremos um segundo semestrebemmelhor, o que garantiráumresultado final para o ano de 7%, afirmou.

Fim dos estímulos Para Santos, não se pode esquecer que PIB do segundo trimestre estará impactado pela retirada dos estímulos fiscais e monetários dados pelo governo.

Desde o fim de 2009, o governo vinha retomando os impostos que tinham sido reduzidos para vários produtos no auge da crise mundial. Também o Banco Central voltou a aumentar a taxa básica de juros (Selic), destacou. O importante, porém, é que a demanda continuou sendo sustentada pela renda e pelo emprego, um sinal de que a acomodação do ritmo da atividade foi feita sem traumas, assinalou.

Não à toa, ressaltou Padovani, o setor de serviços será o grande destaque do PIB do lado da oferta.

Commais dinheiro no bolso e a certeza da garantia do emprego, as famílias decidiram satisfazer mais os anseios por lazer, cultura e entretenimento. Também recorreram mais a restaurantes, a cabeleireiros, a mecânicos, a médicos e a dentistas.Os serviços, por sinal, foram os grandes amortecedores da economia brasileira em2009, período bastante impactado pela crise internacional.

Com base nos números de hoje do IBGE, poderemos fazer duas leituras do PIB. A primeira, de que o mercado exagerou no primeiro trimestre, mesmo sabendo que o crescimento daquele período estava fora dos padrões.

A segunda, olhando para a frente, é de que os próximos trimestres, até o fim de 2011, terão mais a cara do resultado do PIB acumulado entre abril e junho últimos, disse Padovani.

Santos, do BES, está mais otimista.

A seu ver,mesmocoma indústria começando o segundo semestre devagara produção deuumsalto de 0,4%emjulho , os números a serem apresentados pela economia daqui por diante serão robustos. A economia será puxada, sobretudo, pelos investimentos, que ampliarão a oferta de produtos, umalívio para o BC, que decidiu suspender o processo de alta dos juros apostando na inflação sob controle.

Otimismo inédito Calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) voltou a crescer e alcançou o nível inédito de 119,3 pontos em agosto. Termômetro do humor das pessoas, o indicador avalia o sentimento generalizado em relação aos elementos que influenciam a disposição de ir às compras.

Na comparação com julho, ele aumentou 2,1%. O resultado mostra que o consumidor está especialmente otimista, segundo análise da entidade.