Título: Serra retira renda mínima de rateio político
Autor: César Felício e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2004, Política, p. A8
O prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), sinalizou ontem que tratará os programas de transferência de renda como estratégicos em seu governo. A gestão dos benefícios foi retirada do rateio político. Serra decidiu transferir os programas de renda de maior impacto que estavam na secretaria de Trabalho para a secretaria de Assistência Social, que será ocupada por Floriano Pesaro, um técnico de estrita confiança da cúpula tucana. Até outubro, estes programas, dos quais o Renda Mínima é o mais importante, beneficiavam 324 mil famílias. Implantados e coordenados pelo secretário de Trabalho, Márcio Pochmann, tornaram-se uma das realizações mais vistosas do governo Marta. Na pasta de Trabalho, que será ocupada por Gilmar Viana, um pedetista indicado pelo presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, ficaram os programas chamados pelo prefeito de "emancipatórios", como a versão paulistana do Banco do Povo e o Bolsa-Trabalho. "Esta será uma das áreas mais complicadas, trabalhosas e importantes da nossa gestão", definiu Serra. Filósofo de formação, Pesaro foi cabo eleitoral de Serra na campanha municipal de 1988 e assessor direto de dois ministros de Fernando Henrique, o da Educação, Paulo Renato de Souza, e o da Casa Civil, Clóvis Carvalho, que hoje é o coordenador da equipe de transição do prefeito eleito. Entre 1995 e 1996, Pesaro esteve na subchefia para Assuntos Parlamentares da Casa Civil, participando diretamente da negociação para a aprovação das reformas constitucionais da ordem econômica. Entre 2001 e 2002 gerenciou a implantação no Brasil do programa Bolsa-Escola e se envolveu em uma polêmica com a atual prefeita, Marta Suplicy. A prefeita não aceitou a implementação do Bolsa-Escola na cidade, porque queria um cartão magnético único para todos os programas sociais, municipais e federais. Pesaro alegou que a unificação era operacionalmente inviável. Ainda ontem, Serra anunciou o artista plástico Emanuel Araújo como secretário de Cultura. Curador do museu Afro-Brasil, cuja inauguração este ano contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Araújo detém um prestígio que o torna diferenciado em relação ao restante do secretariado. De tal maneira que Serra se declarou honrado por Araújo ter aceito o convite, e não o oposto, como costuma ocorrer. O artista plástico foi por dez anos diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Além do renome cultural, Araújo pode estabelecer uma ponte com os movimentos negros, dado o fato de ser afro-descendente. As outras duas pastas preenchidas ontem foram concessões a aliados políticos. Esvaziada com a perda dos programas de transferência de renda, a secretaria do Trabalho fica com o PDT. A de Esportes será ocupada pelo PPS, que indicou o deputado estadual Marquinhos Tortorello, filho do prefeito de São Caetano do Sul, Luiz Tortorello, em final do mandato. Em Curitiba, o prefeito eleito Beto Richa (PSDB), anunciou ontem o nome de 25 pessoas que farão parte do primeiro escalão municipal a partir de janeiro. Entre eles sua mulher, Fernanda Richa, que presidirá a Fundação de Ação Social (FAS) e seu irmão José Richa Filho, que ocupará a Secretaria da Administração. O secretário da Educação, Paulo Schmidt, foi o único da atual gestão que garantiu uma vaga na equipe, mas irá para a Urbanização de Curitiba, empresa que administra o transporte coletivo da capital. A primeira reunião de secretariado será realizada amanhã, quando serão avaliados os recursos reservados para cada secretaria no orçamento 2005.