Título: Operadoras fixas correm para acertar contas dos inadimplentes
Autor: Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2004, Empresa, p. B1
As telefônicas resolveram acertar as contas com clientes inadimplentes aproveitando os sinais de crescimento da economia. A Brasil Telecom criou uma campanha de Natal em que o assinante inadimplente pode ganhar um perdão de até 80% da dívida com a operadora. A Telefônica e a Telemar, por sua vez, também estão correndo atrás de quem tem dificuldades para pagar a conta do telefone fixo. A operadora paulista lançou o "Agora Dá", serviço fixo do tipo pré-pago, que conquistou 1 milhão do lançamento em julho para cá. O call center da Telefônica operava, em média, com de 20 mil a 30 mil chamadas diárias. Em setembro, fez anúncio na TV destacando o serviço. No dia seguinte, o call center ficou congestionado: recebeu 530 mil ligações, inclusive de clientes de maior renda que queriam uma segunda linha de menor custo. Após o "boom", os contatos caíram, mas ainda passam de 60 mil por dia, diz o vice-presidente de negócios residenciais da companhia, Odmar Almeida Filho. São dois tipos de serviço oferecidos pela companhia: um mistura pré e pós-pago. A assinatura mensal cai dos R$ 35 do serviço convencional para R$ 22,30. A linha só faz ligações locais e recebe qualquer tipo de telefonema. Mas, para ligações de longa distância e para celulares, é preciso carga de cartão, que varia de R$ 5 a R$ 25. A outra modalidade utiliza o cartão para qualquer tipo de ligação, mas é cobrada a assinatura de R$ 11,10. A Telefônica decidiu criar o serviços com tarifa diferenciada porque vinha perdendo assinantes. Em outubro, as linhas em serviço subiram 1,6%, totalizando 12,4 milhões. Antes disso, a queda variava de 1% a 2% ao ano. A Telemar chegou a amargar, em 2001, um índice de inadimplência correspondente a 5,7% da receita bruta, mas já reduziu o percentual pela metade. No acumulado até setembro, a taxa estava em 2,8%. A empresa recebe 7 milhões de ligações por mês, sendo 400 mil relativas aos problemas de pagamento. "Cerca de 40% dos inadimplentes fazem contato antes de a conta vencer", conta José Luis Volpini, diretor de atendimento da operadora que atende 16 Estados do Norte, Nordeste e Sudeste, exceto São Paulo. Após a privatização, a telefonia atingiu áreas em que os moradores jamais tinham tido um telefone. Volpini lembra que muitos dos que assinavam uma linha pela primeira vez usavam o serviço sem limites e, quando chegava a primeira conta, o valor surpreendia. A Telemar, então, partiu para um programa educativo. Editou folhetos e criou um serviço que viaja por pequenas cidades e periferia das grandes para tirar dúvidas. Para tentar reduzir a inadimplência, a Telemar tem um serviço em que a linha é bloqueada para ligações para celulares e longa distância. E ainda outro em que o cliente fala até cem pulsos. A partir daí, o telefone passa apenas a receber ligações. O executivo lembra que as operadoras precisam mesmo se adaptar aos novos tempos. "Telefone virou "commodity". Há usuários, como empresas, que atuam sazonalmente, especialmente na área de serviços, que pedem para desligar linhas nas épocas de baixa estação e depois voltam a contratar quando precisam. Na cruzada contra a inadimplência, a BrT está promovendo pelo segundo ano a campanha de Natal. O diretor de operações financeiras da empresa, Raimundo Barreto Bastos, diz que a operadora fechou o terceiro trimestre de 2004 com 10,7 milhões de assinantes. Nos últimos cinco anos, foram 2 milhões os que saíram da lista de devedores. "O mínimo do desconto que estamos negociando é de 40%, que pode chegar a 80%. Começamos a promoção em 1º de novembro e o volume de interessados tem sido 50% superior ao do mesmo período em 2003. Isso mostra que a população está com pouco mais de condições de regularizar sua situação." A expectativa da BrT era renegociar 4% do estoque de inadimplentes. Se chegar a 5%, irá considerar um êxito, diz o executivo. "Muita gente deixa de pagar. Nesta época do ano, passa a ter maior disponibilidade. Então quer acertar" as dívidas. A BrT já havia criado o pré-pago e o terminal híbrido para exatamente atrair inadimplentes e clientes de baixa renda. Iniciou o serviço em 2002, de forma localizada, devido às limitações nas centrais de telefonia de algumas regiões. A companhia opera com 284 mil telefones pré-pagos e 267 mil híbridos. No terceiro trimestre, a BrT instalou 13,8 mil linhas, um aumento de 47,8 mil linhas sobre o mesmo período de 2003.