Título: Ana Arraes consegue 222 votos e derrota Aldo Rebelo na disputa por vaga no TCU
Autor: Exman ,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2011, Política, p. A10

Com uma votação folgada depois de intensa campanha chefiada pelo filho, o governador pernambucano Eduardo Campos, e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a deputada Ana Arraes (PSB-PE) venceu a eleição na Câmara e ocupará a cadeira que ficou vaga no Tribunal de Contas da União (TCU) após a aposentadoria do ministro Ubiratan Aguiar.

Ana Arraes obteve 222 votos, contra 149 do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), seu principal adversário. Os demais candidatos obtiveram, juntos, 120 votos, mas foi uma eleição sem segundo turno, o que também beneficiou a deputada.

O resultado da disputa demonstrou a força política do filho da candidata e sinalizou que o governo federal contará com uma aliada no TCU, órgão auxiliar do Legislativo na fiscalização do Executivo. Desde a gestão Lula o governo vem tentando enquadrar o TCU e evitar que suas análises de contas paralisem a execução de obras nas quais são identificadas irregularidades graves.

"O controle, quando enxergado como um fim em si mesmo, peca por grave miopia, uma vez que ele deve servir para aperfeiçoar a ação dos governos e não para paralisá-los, posto que é fugaz o tempo de quem governa", discursou no plenário Ana Arraes, atual líder do PSB na Casa. "Não cabe mais, no Brasil, com a maturidade da nossa democracia, o controle meramente persecutório, dissociado do compromisso com o resultado das políticas públicas."

A participação do governador de Pernambuco na campanha repercutiu no Senado, que precisará referendar o nome de Ana Arraes. "Um governador - seja ele quem for - deixa os seus afazeres, deixa de cuidar dos interesses do Estado para eleger a mãe para o Tribunal de Contas da União. É um absurdo, não é uma coisa natural, não é uma prática republicana. É um exemplo do vale-tudo na política. Se o que ocorreu na Câmara nas últimas semanas não é nepotismo, não é abuso do poder político e uso da máquina, eu não sei mais o que é", declarou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), derrotado por Campos nas últimas eleições ao governo. "Quando chegar uma determinada conta do governo Eduardo no TCU, qual será a postura da nova ministra? Ela estará sempre sob suspeição. Isso não é modernidade, é nepotismo, é política do compadrio, do coronelismo. É atraso do pior tipo possível."

Ana Arraes contou ainda, além do filho governador e do ex-presidente Lula, com o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) como seus cabos eleitorais. Setores do PT demonstram preocupação com o fortalecimento Campos nas eleições de 2012 e 2014.

Na véspera da votação, Campos arregimentou autoridades do governo pernambucano e ministros do seu partido, o PSB, para cabalar votos. Nas últimas semanas, o governador reforçou sua agenda em Brasília para encontrar-se com parlamentares dos mais variados partidos. Ontem, Ana Arraes e Campos foram a três jantares: com as bancadas do PP, do PSC e do PV. O governador fez também reuniões com evangélicos. O deputado licenciado Maurício Rands (PT), secretário estadual, também desembarcou em Brasília com a missão de pedir votos para Ana Arraes, inclusive no plenário.

Aldo também fez um discurso direcionado ao governo. Disse que os órgãos de controle não podem confundir gastos sociais com corrupção ou desperdício. Mas, ciente das dificuldades que enfrentava na eleição, afirmou que a disputa deveria ser realizada em dois turnos. Uma das estratégias de Ana Arraes foi justamente tentar convencer candidatos cujos votos poderiam ir para Aldo a não desistir da disputa. "Postulo não como um projeto pessoal ou partidário", reafirmou Aldo, sem citar diretamente os esforços de Campos.

A bancada do PMDB, de 80 integrantes, rachou e Átila Lins (AM) conquistou 47 votos. Damião Feliciano (PDT-PB) recebeu o apoio de 33 deputados, enquanto Milton Monti (PR-SP) obteve 30 votos. O auditor fiscal de carreira Rosendo Severo, cuja candidatura foi patrocinada pelo PPS sob a bandeira da independência ao TCU, somou dez votos.